No post anterior debrucei-me sobre a dança de treinadores e total ausência de um fio condutor lógico e consistente nas sucessivas escolhas feitas neste mandato. Hoje vou escrever sobre o plantel e o mercado. Aqui, o panorama consegue ser ainda mais negro.
Varandas teve todo um ano 0 para preparar a época que agora terminou. Sou sensível ao argumento das dificuldades de tesouraria e da necessidade que havia em vender, mas não há desculpa que justifique a razia de qualidade que o plantel do Sporting sofreu nos três mercados que passaram desde que Varandas e Viana pegaram nas rédeas do futebol.
No dia em que tomou posse, o presidente tinha Coates, Mathieu, Gudelj, Wendel, Bruno Fernandes, Nani, Raphinha, Acuña e Dost. O plantel era desequilibrado, caro, mas tinha uma base de qualidade que permitiu, mesmo sem uma liderança técnica forte, conquistar duas taças. Hoje, essa equipa parece um luxo em comparação com o que temos agora: sobram apenas Coates, Wendel e Acuña (sendo que o argentino parece estar de saída), o plantel continua com um nível salarial demasiado elevado (escandalosamente elevado se considerarmos a sua qualidade) e, de todas as contratações feitas por esta direção, apenas Sporar cumpriu os mínimos para ser considerado titular indiscutível (o facto de não ter concorrência a sério acaba por ajudar). Na categoria de boas contratações podemos ainda incluir Matheus Nunes e Plata, pela relação custo/potencial. Nenhum dos outros jogadores adquiridos ou cedidos por empréstimo, tenham jogado mais ou menos minutos, alcançou um nível de rendimento desportivo que justificasse o valor que foi pago ou o salário que lhes foi oferecido. Foram dezenas de milhões de euros esbanjados, parte dos quais de forma escandalosamente incompetente.
Os primeiros sinais do mercado que agora inicia não são bons, por dois motivos. Primeiro, porque as pessoas que gerem o mercado são as mesmas e, a não ser que Rúben Amorim e Paulo Noga consigam pôr um pouco de ordem à mesa, o mais provável é os resultados sejam idênticos. Houve tempo para contratar um diretor desportivo a sério, mas aparentemente o presidente não viu necessidade de correções a este nível. Depois, porque o ataque ao mercado parece estar a ser pouco focado e propenso a repetir erros do passado. Faz sentido contratar um guarda-redes com um salário elevado quando estamos a desenvolver Max? Ou afinal já não é para apostar em Max? Que sentido faz contratar Antunes, em final de carreira e vindo de uma lesão grave que o limitou a 180 minutos de competição em 19/20? Vamos mesmo trazer Porro sem uma opção de compra acessível? As notícias sobre o interesse num tal de Jason, do Valência, é uma piada de mau gosto dos jornais ou temos de dar mais uma voltinha no carrossel? Falta muito para começarem a despachar jogadores que não justificam o salário que ganham? Vamos deixar outra vez para o fim o reforço de posições que necessitam de reforços urgentes?
Com tantas carências identificadas, não é aceitável que se ande a desperdiçar mais milhões em jogadores que não sejam um upgrade claro em relação ao que já temos. Jogadores para o banco já existem em número suficiente: casos como Matheus Nunes, Plata ou Tiago Tomás, demasiado verdes; casos como Vietto, Jovane ou Ristovski, pouco regulares; casos como Borja, polivalente que pode ser útil; ou ainda jogadores que andaram emprestados como Ivanildo, Dala, Palhinha ou Bragança. É fundamental colocar o foco em jogadores que subam o patamar competitivo da equipa. Numa época em que se qualificarão para a Liga dos Campeões 2+1 equipas, o fracasso no mercado poderá ter consequências arrasadoras para o futuro do clube.