A época 20/21 proporcionou-nos muitos momentos memoráveis, mas escolheria estes jogos se tivesse de escolher os cinco principais:
5º Um mal que veio por bem
Sporting 1 - LASK 4 (Liga Europa, play-off de qualificação)
Foi uma derrota europeia que, tenho a certeza, valeu muitos pontos no campeonato. O Sporting que iniciou a época era uma equipa pouco rotinada - do onze habitual, sete jogadores tinham chegado na pré-temporada - e com muito menos soluções prontas a contribuir do que agora - Inácio, Bragança, Matheus Nunes, Tiago Tomás cresceram muito ao longo da época, enquanto Paulinho, Matheus Reis e João Pereira ainda não tinham chegado.
Obrigar a equipa a realizar mais seis partidas em mês e meio entre finais de outubro e meados de dezembro tornaria muito mais complicada o treino e desenvolvimento de rotinas e, sobretudo, a gestão física de um plantel demasiado curto para atacar tantas frentes. A frescura seria fundamental para a série de 10 jogos em 38 dias entre 2 de janeiro e 9 de fevereiro, período em que defrontou o Porto, Benfica e duas vezes o Braga, alargando a vantagem para o 2º classificado de 2 para 8 pontos e conquistando pelo meio uma Taça da Liga.
4º - Caçador de tempestades
Nacional 0 - Sporting 2 (13ª jornada)
Viagem sob uma tempestade que impediu que o avião aterrasse no aeroporto do Funchal, desviando a comitiva para o Porto Santo. Pressões da Liga denunciadas pelo Sporting para que se forçasse a aterragem, sem aparentes preocupações pela segurança de tripulantes e passageiros. Equipa presente à hora do jogo, sob chuva impiedosa e um vento que arrastava qualquer objeto que não estivesse bem seguro. Ainda assim, Rui Alves insistia em que se jogasse. Felizmente o árbitro teve bom senso e adiou a partida para o dia seguinte.
As condições não eram muito melhores, mas lá se jogou. Menos vento, mas muita chuva e muita lama. Uma batalha que mostrou que não só a equipa era capaz de ignorar a pressão montada à sua volta, como também se tratava de um Leão todo-o-terreno, adaptando-se muito bem às difíceis condições e marcando dois golos sem resposta. Os três pontos viajaram na mala de regresso a Lisboa numa viagem bem menos atribulada.
3º - Até ao último minuto
Gil Vicente 1 - Sporting 2 (18ª jornada)
Depois de meio campeonato quase imaculado, a 2ª volta abriu com outro jogo com condições climatéricas complicadas. São Pedro abriu a barragem, mas, ao contrário da Choupana, o relvado de grande qualidade de Barcelos permitiu que se jogasse. Não que o Sporting conseguisse tirar partido disso: a exibição foi pobre e raramente chegou à baliza de um Gil Vicente que foi a melhor equipa na 1ª parte e que chegou à vantagem com justiça.
Mas os campeões também se fazem com noites em que vencem sem convencer, em que de uma forma ou de outra lá arranjam maneiras de meter a bola na baliza. Neste caso, a maneira foi só uma. Estava reservado para os 10 minutos finais um bis de Coates, o ponta-de-lança de improviso menos improvisado de sempre, que permitiu ampliar a vantagem para o Porto para 8 pontos, crítica para um clássico do Dragão que já aparecia ao virar da esquina.
2º - Demonstração de força
Sporting 1 - Benfica 0 (16ª jornada)
Um dérbi que começou uma semana antes, à conta de um 5º amarelo a Palhinha que tresandou a encomenda. De tal óbvio foi, que o próprio árbitro não teve alternativa se não reconhecer o erro, mas não o suficiente para o Conselho de Disciplina, que confirmou o castigo e recusou ouvir o jogador.
Amorim manteve o grupo à margem da polémica, preparou o jogo sem o seu médio defensivo titular e depositando publicamente toda a confiança em Matheus Nunes. Uma providência cautelar acabaria por suspender a sanção a poucas horas da partida e Palhinha voltou a estar disponível, mas nem assim Amorim mudou de ideias. O treinador passou o maior atestado de confiança possível que se pode dar a um jogador e foi com Matheus para a guerra. Quis o destino que o golo da vitória fosse marcado nos descontos precisamente por Matheus, resultando numa esmagadora tripla vitória - em campo, no balneário e na secretaria - que teria um impacto tremendo no resto da temporada.
1º - Via Verde para o título
Braga 0 - Sporting 1 (29ª jornada)
No Dragão, dirigentes e adeptos já sentiam o cheiro a bicampeonato e a reedição da recuperação de 7 pontos na época anterior para o Benfica de Bruno Lage. Acabado de consentir 3 empates nas 4 jornadas anteriores e permitindo a aproximação do Porto de 10 para 4 pontos, o líder parecia em quebra e visitava a Pedreira num jogo de altíssimo risco.
A margem para erro era quase nula e desapareceu por completo quando Artur Soares Dias decidiu mostrar um 2º amarelo forçado a Gonçalo Inácio aos 18', dando um pontapé no seu próprio critério (Gilberto contra o Sporting e Pepe contra o Benfica não tiveram o mesmo azar por faltas bem mais grosseiras). Leão colocado fora, sobraram 10 leões que cerraram os dentes, souberam sofrer e aproveitar para resolver o jogo de forma absolutamente clínica.
O título não ficou fechado, mas a vitória em Braga inverteu em definitivo o estado psicológico dos dois candidatos e abriu caminho direto para o título.