terça-feira, 18 de maio de 2021

Os facilitadores da estrelinha, parte 2

Primeira parte do post: LINK


Muros na baliza

Foi uma das transferências mais discretas, pelo valor, pelo momento e pelo buzz positivo que não gerou na altura, mas a chegada de António Adán ao Sporting foi seguramente uma das que maior impacto teve na competitividade da equipa. O veterano guarda-redes espanhol fez uma época excecional, não só pelas várias defesas impossíveis que fez, mas também pela segurança que sempre conseguiu transmitir à equipa.

Não se lhe consegue identificar um ponto fraco: jogo de pés fulcral para a saída de bola, muito certo nas saídas aos cruzamentos, atento ao controlo da profundidade, forte no 1x1 e excelentes reflexos entre os postes. Não entrando em comparações sobre o seu valor global como guarda-redes, diria que Rui Patrício é mais forte entre os postes e no 1x1 (top mundial, na minha opinião), mas não é tão completo como o espanhol.

O nível exibicional de Adán não deu hipóteses a Luís Maximiano, mas é da mais elementar justiça referir que, no único jogo do campeonato em que participou, Max fez uma defesa gigante aos pés de Éber Bessa que manteve o resultado a zeros numa altura crítica do jogo.

Se o Sporting foi campeão, deve-o muito aos muros que teve na baliza.


Meio-campo low-cost com soluções para todos os gostos

De uma época para a outra, o Sporting transformou quase por completo a gama de soluções para os dois lugares no centro do terreno. Manteve-se Matheus Nunes, deixaram o clube Battaglia, Doumbia, Wendel e Geraldes (falo apenas daqueles que pareciam contar para Amorim no final de 19/20), e entraram Palhinha, João Mário e Daniel Bragança. As saídas renderam algum dinheiro, mas as entradas custaram zero, o que permitiu reforçar outras posições carenciadas.

Não foi preciso esperar muito tempo para que a dupla Palhinha / João Mário proporcionasse os equilíbrios de que o coletivo necessitava. Palhinha é um touro que está sempre no sítio certo e com uma capacidade de desarme imperial, enquanto João Mário é um mestre a segurar a bola e a gerir os tempos da equipa. Os dois deram a Amorim o tempo que este necessitava para desenvolver as alternativas: Matheus Nunes dá outra capacidade para esticar o jogo, principalmente quando as pernas começam a pesar aos adversários; Bragança é um maestro com uma área de ação alargada.

Ainda que a dupla Palhinha / João Mário tenha sido a mais utilizada ao longo de toda a época, foi notório um crescimento gradual de importância de Matheus e Bragança a partir de dezembro. Na 2ª volta, pode dizer-se que Amorim teve à sua disposição um quarteto a quem podia confiar diferentes missões. 20 valores para o meio-campo que se arranjou (75% prata da casa, mais um regresso por empréstimo) considerando o dinheiro que (não) havia para gastar.


União de aço

Dificilmente se encontrará grupo mais heterogéneo, considerando a veterania de parte dos elementos do plantel e a juventude de outra fatia considerável de jogadores. A verdade é que funcionou na perfeição misturar perfis de liderança serena como o de Coates ou Adán, um porta-voz mobilizador como Neto, os elementos ultracompetitivos referidos na 1ª parte deste post, e ainda a irreverência juvenil de Tiago Tomás, Quaresma, Matheus Nunes ou Nuno Mendes. Isto, obviamente, potenciado pela liderança carismática de Amorim que não teve problemas em usar a experiência de João Pereira ou Antunes para orientar um balneário com perfis tão diferentes na direção do objetivo comum.

De uma forma ou de outra, passou-se a ideia de que todos tiveram o seu papel a desempenhar e que todos deixaram a sua marca nas conquistas. "Onde vai um vão todos" foi um lema levado à letra, e esse espírito de grupo foi decisivo para ultrapassar as fases mais difíceis da época.


Ao ataque em janeiro

Os ajustes que se fizeram ao plantel no mercado de transferências deram o sinal de ambição necessário para uma equipa que muitos ainda teimavam não considerar como verdadeira candidata. 

João Pereira e Matheus Reis foram aquisições de baixo risco que ofereceram profundidade ao plantel em posições carenciadas.

Paulinho foi uma aposta de risco pelos valores da transferência e por ainda envolver a saída de Sporar, o que significava que o Sporting continuaria com um único ponta-de-lança de raiz no plantel. Para piorar, Paulinho não chegou nas condições físicas ideais e acabou por perder alguns jogos por lesão. Os golos não surgiam e a pressão foi acumulando. 

Mas o risco acabou por compensar. Não tanto pela quantidade de golos marcados (apenas 3 até hoje, sendo que o 1º aparece mais de 2 meses após a sua chegada ao clube), mas sobretudo pelo que fez jogar. Certo, não teve um impacto que justifique o valor da etiqueta, mas fez aumentar a qualidade de jogo do coletivo. Nunca poderemos tirar isto a limpo, mas quem sabe se não terá sido o nível de melhoria necessário para fazer a diferença entre o triunfo e mais um ano de jejum?