quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Faltas e cartões

                                                                                                                                                       
Fazer uma ligação entre as faltas que cada equipa comete e os cartões que são lhe são mostrados é uma análise que não faz sentido quando feita individualmente, jogo a jogo. O critério mais apertado ou permissivo do árbitro, o equilíbrio de forças entre as equipas e as circunstâncias do jogo podem fazer com que uma partida com poucas faltas leve à exibição de um grande número de cartões e, inversamente, uma partida com muitas faltas (se forem cometidas sobretudo no meio do terreno entre equipas muito fechadas) acabe por ter poucos cartões.

No entanto, ao fim de um certo número de jogos podem começar a detetar-se padrões bem mais significativos. Ao fim de sete jornadas, por exemplo, cada equipa teve sete árbitros diferentes a apitar os seus jogos e sete adversários diferentes. No fundo, acabam por ser sete jogos com histórias diferentes que, misturadas e baralhadas, podem revelar algumas tendências que isoladamente não se detetariam.

Olhemos para as faltas sofridas por cada equipa e para os cartões que são mostrados aos adversários que as cometeram. Os 9 primeiros classificados do campeonato - ou seja, a 1ª metade da tabela (a saber: Benfica, Porto, Guimarães, Sporting, Marítimo, Rio Ave, Braga, Paços de Ferreira e Belenenses) estão entre as 10 equipas cujos adversários viram uma proporção superior de cartões em relação à faltas que cometeram. 

Por cada 3,4 faltas que o Guimarães sofre, os seus adversários vêm um cartão (para este exercício somei os cartões amarelos aos vermelhos nos totais de cartolinas exibidas). No extremo oposto está o Boavista, cujos adversários só vêm 1 cartão por cada 10,6 faltas que cometem sobre os axadrezados.


Existe alguma lógica nisto. É natural que as equipas do cimo da tabela tenham a tendência de provocar mais lances de perigo que normalmente estão na origem de faltas mais propensas a valerem a exibição de cartões. Para além disso, é também mais frequente que os adversários procurem perder mais tempo e vejam cartões por esse motivo. Apenas o Arouca (13º classificado) se intromete nesta tendência.

Entre os 3 grandes há um certo equilíbrio: os adversários do Porto vêm um cartão por cada 3,9 faltas cometidas, os adversários do Sporting vêm um cartão por cada 4,4 faltas cometidas, e os adversários do Benfica vêm um cartão por cada 5,1 faltas cometidas.

No entanto, nas faltas cometidas este tipo de lógica desaparece por completo.


O Benfica é a equipa a quem é permitido cometer mais faltas sem exibição de cartões. Em média, o Benfica vê um cartão por cada 7 faltas que comete. O Porto vê um cartão por cada 5,2 faltas cometidas, e o Sporting vê um cartão por cada 4,1 faltas cometidas.

Quem costuma assistir aos jogos do Sporting certamente que não ficará surpreendido. A facilidade com que os árbitros mostram cartões aos jogadores do Sporting é assustadora. Apesar de o Sporting ser a 5ª equipa que menos faltas comete (atrás de Porto com 89, Académica com 92, Rio Ave com 97 e Paços com 98), só outros 3 clubes viram mais cartões. (Boavista com 28, Belenenses com 27 e Gil Vicente com 25).

Em contrapartida, têm sido várias as situações em que jogadores do Benfica têm escapado à punição disciplinar por um conjunto de faltas que seriam óbvias para cartão. O Benfica tem mais 12% de faltas cometidas que o Sporting, mas o Sporting já viu mais 50% de cartões do que o Benfica. Dá que pensar.