quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O compromisso de Fernando Gomes com o jogador nacional

                                                                                                                                                         
A forma brilhante como a seleção sub-21 garantiu o apuramento para a fase final do europeu levanta, mais uma vez, a questão das oportunidades dadas aos jovens jogadores portugueses ao nível dos clubes.

Não vale a pena andar com rodeios em relação a este assunto: em Portugal, apenas Sporting, Benfica e Porto podem proporcionar a rodagem competitiva necessária para que os melhores desta fornada possam concretizar todo o seu potencial. A alternativa a isto é assinarem por uma equipa de uma liga estrangeira mais competitiva que a nossa. 

Os clubes portugueses que não os grandes podem servir como rampa de lançamento, mas apenas por um tempo limitado. Quem permanecer demasiado tempo em Portugal, num clube com poucas ambições, numa liga fraca como a nossa, acabará eventualmente prejudicar o seu processo de desenvolvimento.

Como é mais que sabido, nem Benfica nem Porto estão muito preocupados em aproveitar os jogadores que andaram a desenvolver durante anos. Apesar de saberem (e bem) desenvolver jovens provenientes de outras paragens, estigmatizam os próprios produtos da sua formação. 

É uma política que se lamenta do ponto de vista do interesse da seleção nacional, mas que tem que se aceitar. Se há alguém que tem que se preocupar com os interesses da seleção não são os clubes, mas sim a FPF, e mais concretamente o seu presidente Fernando Gomes.

Fernando Gomes teve um papel importante, enquanto presidente da Liga, na criação de condições para a criação das equipas B - que é uma ferramenta importantíssima para facilitar a adaptação dos jovens ao futebol sénior. No entanto, será sempre apenas parte da solução e, para piorar a situação, está a ser subaproveitada:

  • O quadro competitivo atual da II Liga é tenebroso, com 24 equipas e 46 jornadas, contribuindo para um nível de qualidade ainda inferior ao que é tradicional;
  • As equipas B não podem ser mais que um degrau de curta duração para os miúdos que ascendem dos juniores, tendo pouca utilidade para o seu desenvolvimento ao fim de um ou dois anos;
  • A ascensão dos melhores jogadores às equipas principais está seriamente condicionada.

Se a FPF vai ficar à espera que Benfica e Porto (e o Sporting também pode fazer melhor) tomem a iniciativa de integrar os seus jovens na equipa principal de uma forma efetiva, dificilmente o estado das coisas melhorará. No entanto, basta olhar para o primeiro ponto do programa eleitoral de Fernando Gomes para a presidência da FPF para encontrarmos uma proposta que faz todo o sentido:

(obrigado @nunovalinhas)

É incompreensível que Fernando Gomes não tenha feito absolutamente nada até ao momento para cumprir esta medida do seu programa. Do ponto de vista regulamentar não vejo quaisquer problemas: a UEFA já o implementou, ao limitar a inscrição de jogadores não formados no clube ou no país de origem na Liga dos Campeões e Liga Europa (num plantel de 25, 4 têm que ser formados nos clubes e outros 4 têm que ser formados no país do clube), e os clubes portugueses tiveram que se adaptar. 

O argumento de uma inevitável perda de competitividade das equipas portuguesas simplesmente não pega. Se as equipas portuguesas já têm estas limitações lá fora, não conseguiriam sobreviver cá dentro com estas restrições?

É óbvio para todos que o único entrave à implementação desta medida são os modelos desportivos seguidos por Benfica e Porto. Por um lado compreende-se: Fernando Gomes não quer entrar em guerras com Vieira e Pinto da Costa, certamente já a pensar na sua reeleição. Por outro lamenta-se: é uma pena que os interesses pessoais do presidente da FPF se sobreponham a uma política ativa que promova a evolução do jogador português.