terça-feira, 8 de agosto de 2017

Comunicação SCP: época nova, os erros do costume

Depois de um defeso relativamente calmo em matéria de comunicação, a aproximação do início das competições parece ter despertado a tentação do Sporting em repetir os erros do passado.

A pacatez dos últimos meses devia-se, sobretudo, a três fatores: é, por natureza, um período mais morto; à decisão do presidente de deixar de escrever no Facebook, fechando quer a conta institucional, quer a conta pessoal; e o cumprimento do pesadíssimo (e injustificado) castigo imposto pelo Conselho de Disciplina da FPF. Se, no caso da suspensão, foi forçado a isso, relativamente ao Facebook já foi uma decisão do próprio - que achei sensata, apesar de considerar o Facebook uma ferramenta que, bem usada, pode ser bastante útil. Infelizmente, o presidente nem sempre soube medir bem o tempo e o tom dos seus posts. Tudo junto levou a que as intervenções do presidente e de Nuno Saraiva fossem bastante mais reduzidas do que é hábito.

No dia em que terminou a sua suspensão, Bruno de Carvalho decidiu dar uma entrevista à Sporting TV. Totalmente desnecessária, diga-se, pois não disse nada que não se soubesse já, revelou-se mal preparado na questão dos delegados, e ainda decidiu dedicar uma enorme fatia do tempo a responder a Octávio Machado, abrindo uma frente de batalha de onde nunca poderia vir nada de bom para o clube.

Pecado semelhante cometeu Nuno Saraiva ao atacar Nicolau Santos pelas criticas que este fez, num artigo publicado no site do Expresso, às opções de mercado e planeamento da época do clube. Em primeiro lugar porque o jornalista, sendo sócio sportinguista, tem direito à crítica. Segundo, porque as críticas de Nicolau Santos eram tão absurdas, tão ridículas, que pouca gente as terá levado a sério... o mesmo não se pode dizer do próprio Nuno Saraiva, que ao responder a Nicolau Santos, acabou por lhe dar ainda mais palco, ao mesmo tempo que abria uma nova frente de batalha.

Em ambos os casos (Octávio e Nicolau), a azia de um e a falta de lógica de outro acabariam por ser os coveiros do seu próprio discurso junto da esmagadora maioria dos sportinguistas. É pena que Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva ainda não tenham percebido que, por vezes, é melhor deixar os outros a falarem sozinhos.

Mas tomara que tivesse sido apenas isso.

Recentemente, Bruno de Carvalho reativou a sua conta pessoal - um assunto que, por princípio, só a si lhe diria respeito -, mas não sem dar uma longa explicação para essa decisão. Nessa explicação escreveu para os sportinguistas, na qualidade de presidente - o adepto Bruno de Carvalho, no que à discussão pública diz respeito, não existe -, e não conseguiu deixar de dar algumas bicadas e recados. Ou seja, colocou-se a jeito para ser acusado de faltar à palavra dada.

Voltaram também os posts de Nuno Saraiva a disparar em todas as direções. O diretor de comunicação ainda não percebeu que a eficácia das suas intervenções diminui de forma inversamente proporcional à quantidade de mensagens e acusações que decide fazer. O excelente post que fez a criticar Vieira pelas declarações em que negou a existência de claques (excelente, porque foi factual e incisivo, recuperando acontecimentos passados que comprovavam a hipocrisia das palavras do presidente benfiquista) acabou por ficar diluido no meio de outras publicações sem qualquer relevância, das quais se destaca esse momento de vergonha alheia que foi a surreal sequência de posts dos gnomos. É possível que, nos corredores e gabinetes da SAD, tenham achado muito divertido o exercício caricatural feito sobre alguns inimigos... mas cá fora terão sido poucos os sportinguistas a entender a necessidade de uma coisa destas. Eu, definitivamente, não fui uma dessas pessoas.

Ou seja, tudo isto para concluir que, concluído mais um ano, voltámos à casa da partida. Parece que ninguém está interessado em aprender com os erros: estamos a cometê-los novamente e, pior, sem qualquer noção dos danos que isso causa à nossa imagem e credibilidade.

Para completar o cartão de bingo, já só falta fazer declarações de bazófia se nos virmos a liderar o campeonato isolados ao fim de algumas jornadas (tipo "os nossos rivais têm que dar mais luta"), e congratularmo-nos publicamente pelo sucesso do videoárbitro ao fim de meia-dúzia de jornadas, à imagem do que Bruno de Carvalho fez à 3ª jornada da época passada. Sabemos bem como as coisas correram depois disso.