O jornal O Jogo fez um resumo das aquisições e vendas que o Sporting realizou esta época, chegando ao total de 27,1 milhões gastos em compras e aos 22,3 milhões alcançados com as saídas.
No caso das compras, o valor poderá atingir os 30,6 milhões caso a cláusula de opção de Doumbia seja acionada - creio que, ao contrário do que está no quadro, a opção não é obrigatória, estando dependente do cumprimento de determinados objetivos -, enquanto o montante das vendas poderá aumentar em função da componente variável da transferência de Paulo Oliveira.
Ou seja, neste momento, o Sporting gastou cerca de 5 milhões a mais do que encaixou com as vendas.
Mas, na realidade, fazer as contas das compras e das vendas desta forma não é mais do que um exercício de mera curiosidade, pois o impacto nas contas está muito longe de se calcular através de uma simples subtração entre um e outro número. Para a parte das vendas interessa calcular as mais-valias - a diferença entre o valor que o clube obteve com a venda após serem deduzidas comissões e o valor contabilístico do atleta -, enquanto os custos com as compras acabam por ser diluídos proporcionalmente pelo número de anos de contrato de cada jogador.
Deixo alguns exemplos. O custo dos 9,6 milhões da transferência de Acuña será distribuído por cada um dos 4 anos do seu contrato. Ou seja, nesta época, a sua contratação só terá um impacto de 2,4M nas contas. Por outro lado, é duvidoso que a venda de Teo Gutierrez dê algum lucro ao clube: entre o que custou, as comissões e o prémio de assinatura, o valor da venda deve andar ao nível do seu valor contabilístico. Já a venda de Rúben Semedo deve ser quase só lucro, pois era um jogador da formação, e o seu valor contabilístico limitava-se aos prémios de assinatura nas renovações de contrato (que devem ser pouco significativos).
Calculo que a pergunta que virá à cabeça da maior parte dos sportinguistas ao ver este quadro é a seguinte: precisa o Sporting precisa de vender mais jogadores? A resposta é: sim, mas não necessariamente agora.
O Sporting precisa de vender porque as receitas operacionais (que não envolvam vendas) não chegam para cobrir os custos da SAD. Como se sabe, o aumento dos salários da equipa de futebol tem aumentado bastante ao longo das últimas épocas. Felizmente, as receitas em geral também têm tido um aumento considerável (direitos de televisão, publicidade, bilheteira e merchandising), mas não cobrem totalmente os custos. Sendo assim - e apesar de o desequilíbrio operacional do Sporting ser bastante inferior ao de Benfica e Porto - não há como fugir: com esta estrutura de custos será sempre necessário vender.
Quanto é que o Sporting terá ainda de vender? Neste momento, ainda não é certo, pois há dois fatores importantes que carecem de definição. O primeiro é a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, que valerá um mínimo de 15 milhões. O segundo é a colocação dos jogadores excedentários: Schelotto, Marvin, Douglas, Jug, Bryan Ruiz, Slavchev, Rosell, Héldon e Petrovic (coloco-o porque o seu custo está longe de justificar a utilização que terá se ficar no plantel) representam um custo salarial que - especulando - deve andar entre os 8 e os 10 milhões de euros. Ou seja, só aqui estaremos a falar de um total de 23-25 milhões de euros que, idealmente, deixaríamos de ter de vender se corresse tudo como desejássemos (qualificação para a Champions e venda ou empréstimo de todos os excedentários).
A este valor terá que se juntar o desequilíbrio operacional que se registará no fim da época. No final do 3º trimestre de 2016/17, o Sporting teve um prejuízo operacional (sem venda de jogadores) de cerca de 10 milhões, que deverá rondar os 17/18 milhões no final da época. Para já, penso que podemos assumir que 2017/18 terá números idênticos aos da época passada - caso os tais pressupostos indicados em cima se cumpram.
Convém também relembrar que a maior venda do defeso (Rúben Semedo) foi realizada antes de 30 de junho, pelo que entrará nas contas da época passada.
Aquilo que me parece é que se o Sporting se conseguir qualificar para a Liga dos Campeões, não estará pressionado para vender por uma questão de equilíbrio de contas. Eventualmente poderá ter que o fazer por uma questão de gestão de tesouraria, mas também há uma alternativa (pouco recomendável mas, ainda assim, uma alternativa) a vender já: antecipar receitas ou contrair um empréstimo bancário adicional para que o clube não falhe os seus compromissos.
Certo, certo, é que o clube terá de fazer pelo menos uma excelente venda, na ordem dos 30 milhões - seja agora, no mercado de inverno, ou no final da época, antes do mundial.