Esgotaram-se as hipóteses ténues que o Sporting tinha para vencer o campeonato. As que ainda existiam implicavam uma conjugação improvável de fatores favoráveis no meio de um ciclo repleto de jogos de grau de dificuldade elevado e desgastantes. Um desses fatores passava pela obrigação de o Sporting ganhar todos os jogos. Não o fez ontem, essas hipóteses foram à vida, e com elas, as ambições do Sporting para o campeonato. Não foi ontem, no entanto, que o Sporting as deitou a perder. O Sporting comprometeu o campeonato em Moreira de Cónegos, em Setúbal, no Estoril e no Dragão, devido a uma outra conjugação de fatores – desfavoráveis – que se dividem entre arbitragens manhosas e um modelo de jogo pouco adaptado aos jogadores que temos e aos adversários que defrontamos. Se já sabemos que não temos a mesma margem para errar que outros, então temos de arranjar um modelo que minimize essas interferências.
Ontem, a arbitragem voltou a ser péssima. Perdoou um penálti escandaloso por falta duríssima de Matheus sobre Dost (noutro local do campo que não a área seria marcada por qualquer árbitro) e anulou mal um golo ao Braga numa decisão igualmente escandalosa, pois não há imagens conclusivas que suportem a reversão da decisão inicial. Bruno Viana devia ter sido expulso pela entrada violentíssima sobre Gelson. Na segunda parte a arbitragem à inglesa cedeu lugar a uma arbitragem à inglesa quando os jogadores do Sporting sofriam faltas (violentas, algum delas) e uma arbitragem à portuguesa quando os jogadores do Braga caíam no chão. Piccini foi bem expulso, vendo (bem) um segundo amarelo por uma falta tão grave como várias outras cometidas por jogadores do Braga que ficaram por assinalar.
A expulsão de Piccini foi, tal como Jesus disse, decisiva para a derrota, mas não foi decisiva para o essencial: a não vitória. Um empate seria tão fatal para as nossas aspirações quanto a derrota, e a triste realidade é que a equipa voltou a exibir-se abaixo das necessidades. O Sporting até teve uma boa entrada em jogo, com pressão em todo o campo a impedir o Braga de construir jogo, mas a partir do meio da primeira parte deixou de conseguir mandar no jogo. Se Piccini tivesse permanecido em campo até ao final, o mais provável era que tivéssemos empatado, e não ganho. Faltou ligação entre setores - Bryan pode desenrascar como 8 em determinadas circunstâncias mas não neste tipo de jogos -, voltou a faltar gente capaz de desequilibrar, voltou a faltar presença na área - é paradigmático o gesto de Coentrão, com a bola, já nos descontos, a mandar Gelson (que estava encostado na linha oposta) ir para a área -, voltou a faltar objetividade no momento de alvejar a baliza. Na prática, nada que não se tenha visto em demasia ao longo desta época. Foi-nos valendo a capacidade de luta dos jogadores e a estrelinha dos golos ao cair do pano que nos foram permitindo adiar este desfecho durante um par de meses. Ontem, cumpriu-se a lei das probabilidades.
Sobre Jesus já disse o que penso (AQUI), e não é esta derrota que me faz mudar de opinião, mas é inegável que o treinador ficará muito mais pressionado se as eliminatórias com Atlético Madrid e Porto não correrem bem. Depois do investimento que foi feito, é muito complicado justificar apenas com fatores alheios à equipa que acabemos a disputar o terceiro lugar com o Braga na prova que era o nosso principal objetivo da época. De qualquer forma, havendo outros objetivos importantes ainda em disputa, os balanços definitivos têm de esperar. As contas devem fazer-se apenas no final.