Sinisa Mihajlovic não seria, definitivamente, a minha primeira, segunda ou terceira escolha para treinador do Sporting. Quando ouvi falar do interesse do clube em contratá-lo, fiquei a desejar que fosse apenas mais um tiro ao lado da imprensa desportiva devido, sobretudo, ao facto de não ser um técnico a quem se associe de imediato uma aura de conquista de títulos. Não foi tiro ao lado da comunicação social. O interesse do Sporting era efetivamente real e ontem concretizou-se num acordo para os próximos três anos.
Na sequência da contratação de Mihajlovic, estive a pesquisar o trabalho que foi fez nos últimos anos. O cenário negro que se tinha formado na minha mente desvaneceu-se um pouco.
O clube onde teve mais sucesso foi na Sampdoria: em 2013/14 pegou na equipa à 12ª jornada quando se encontrava abaixo da linha de água, e levou-a até à 12ª posição. Fez a época seguinte completa e alcançou um 7º lugar - posição que a Sampdoria não conseguiu repetir após a sua saída (16º, 10º e 10º lugar). O 7º lugar alcançado em Génova levou a que o Milan o contratasse, mas acabou despedido à 32ª jornada, deixando a equipa em 6º lugar e qualificada para a final da Taça de Itália. Nas épocas que se sucederam entretanto, o Milan nunca conseguiu melhor do que o 6º lugar e não regressou à final da taça - mesmo na época que agora terminou, em que foram investidos quase 200 milhões de euros em contratações. Em 2016/17 foi para o Torino e conseguiu um 9º lugar (na época anterior tinha ficado em 12º). Esta época foi despedido do Torino após ser eliminado da taça pela Juventus, deixando a equipa em 10º lugar com 5 vitórias, 10 empates e 4 derrotas, a 2 pontos do 7º lugar. Não tem títulos, mas convém relembrar que a Juventus seca tudo em Itália: os crónicos campeões limparam os últimos 7 campeonatos e as últimas 4 taças.
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Já vi por aí análises a destacarem a baixa percentagem de vitórias, mas convém ter em consideração duas atenuantes: nunca dirigiu um clube de 1ª linha em Itália (o Milan dos últimos anos não é mais do que um clube de 2ª linha), e é um treinador que sempre ganhou mais do que perdeu, mesmo em clubes que não tinham recursos para mais do que a luta pelo meio da tabela.
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As questões extra-futebol, não sendo agradáveis, não são relevantes. O Sporting contratou um treinador de futebol, e não um professor de história ou de ciência política. A única coisa que devemos exigir, em relação a isso, é que o treinador respeite os jogadores e adeptos e honre o emblema que passará a representar.
Nas circunstâncias atuais, seria impossível replicar o efeito que a contratação de Jesus teve há três anos. Mihajlovic não é um nome bombástico. É um treinador de quem os adeptos poderão ter legítimas dúvidas sobre se tem o que é necessário para criar uma equipa competitiva a partir de um plantel muito desfalcado num campeonato que não conhece, mas convém termos consciência de que não estamos a falar de um incompetente incapaz de pôr equipas a jogar futebol. Tem um perfil que, tendo acesso aos meios e ao tempo necessários, poderá dar frutos no Sporting.
Que tenha o sucesso que todos desejamos.