segunda-feira, 10 de setembro de 2018

As contas de 2017/18

O Sporting divulgou no sábado as contas referentes à época de 2017/18: o exercício culminou com um prejuízo de 19,9 milhões de euros, que contrasta profundamente com o lucro 30,5 milhões obtidos em 2016/17. Não é um resultado surpreendente, considerando os números que já se conheciam do 3º trimestre (1 milhão de euros de lucro) e a ausência de vendas significativas de jogadores até 30 de junho.

O prejuízo poderia ter sido bastante maior caso não se tivessem revertido as rescisões de Dost, Bruno Fernandes e Battaglia, que, de todos os jogadores que abandonaram o Sporting, eram os que tinham valor contabilístico mais elevado (todos os outros ou eram jogadores da formação ou foram adquiridos por valores reduzidos). Os três jogadores eram ativos que estavam avaliados nas contas em 18 milhões de euros e, caso não tivessem regressado, o prejuízo dispararia para 37,9 milhões de euros.

As perdas de 19,9 milhões explicam-se pelo facto de a época ter terminado da forma que todos conhecemos. A direção de Bruno de Carvalho atacou 2017/18 assumindo um nível de risco superior ao nível das contas, que se traduziu num crescimento significativo dos custos com a equipa de futebol graças a várias contratações de jogadores com salários elevados, que se juntaram a um plantel que já era caro. O risco aumentou, mas era calculado: a venda de Adrien no início da época e a boa prestação na Liga dos Campeões deram algum desafogo financeiro, pelo que para atingirmos o lucro bastaria vender mais um dos jogadores principais do plantel - o que acabou por não acontecer por tudo aquilo que sabemos.


PROVEITOS OPERACIONAIS

Ao nível dos proveitos operacionais, registou-se a continuidade da evolução positiva registada ao longo dos últimos anos. 


O principal aumento deu-se ao nível dos prémios da UEFA. As receitas de bilheteira também tiveram um crescimento interessante, mas acabam por estar também ligados às competições europeias - nomeadamente com as visitas de Barcelona, Juventus e Atlético Madrid. Pela negativa, assinale-se a estagnação ao nível dos camarotes e business seats, um segmento que, claramente, continua num estado de sub-aproveitamento.


CUSTOS OPERACIONAIS

Os custos com pessoal dispararam para 73,8 milhões de euros, um valor que me parece excessivo face ao nosso nível de receitas operacionais. Os salários de jogadores e equipa técnica praticamente que triplicaram no espaço de quatro épocas.


Sousa Cintra revelou no sábado que cortou 10 milhões ao nível dos custos com pessoal. Considerando que nos vimos livres do salário de Jorge Jesus e perdemos alguns dos jogadores mais bem pagos do plantel (como Patrício e William), não me parece uma grande proeza. De qualquer forma, sendo verdadeiros esses números, é expectável que os custos com pessoal baixem para a ordem dos 60-65 milhões - um valor mais aceitável para a nossa realidade.


RESULTADOS

Apesar de o Sporting ter apresentado resultados operacionais positivos (3,5 milhões), a verdade é que sem as receitas da Liga dos Campeões e sem as mais-valias das vendas de jogadores teríamos prejuízos operacionais de 50 milhões. 


Em relação a 2018/19, já sabemos que não teremos Liga dos Campeões e que as vendas de Gameboxes diminuíram; em contrapartida, as receitas televisivas deverão aumentar com a entrada em vigor do contrato da NOS, já fizemos algumas vendas que geraram algumas mais-valias (William e Piccini) e haverá o tal corte de 10 milhões ao nível dos custos com pessoal. Isto significa que continuaremos a estar mais dependentes de vendas de jogadores do que seria desejável.


ENDIVIDAMENTO

É das poucas boas notícias que este relatório e contas tem para oferecer. Apesar de tudo o que se passou, a dívida total (onde incluo as receitas antecipadas) baixou de 148,8 milhões para 131 milhões.


Detalhando a parte da dívida correspondente às receitas antecipadas, a 30 de junho a SAD tinha antecipado cerca de 49 milhões de euros. Fica abaixo dos 60 milhões que Ricciardi referiu, mas é possível que tenha havido recurso a mais antecipações entre julho e setembro.



AQUISIÇÕES

Raphinha custou 6,5 milhões por 100% do passe. Não foram pagas comissões. O Sporting terá de entregar 20% das mais-valias de uma venda futura (assumo que ao V. Guimarães, o relatório e contas não é explícito quem tem esse direito).

Bruno Gaspar custou 4,5 milhões por 100% do passe, a que se soma 236.000 euros de outros encargo.

Viviano custou 2 milhões por 100% do passe. Não foram pagas comissões.

Marcelo foi uma contratação a custo zero, mas o Sporting gastou 500.000 euros noutros encargos.