Keizer teve ontem o primeiro verdadeiro choque com a realidade do futebol português. Finalmente pôde testemunhar ao vivo a forma como, por cá, vão convergindo um punhado de fatores desfavoráveis que tornam mais difícil a tarefa de o Sporting vencer os seus jogos. No caso de ontem, poder-se-ia referir o adversário de pé na chapa (quem diz pé, pode dizer antebraço, mão ou cotovelo; e quem diz chapa pode dizer pescoço do Nani, por exemplo) que tão dócil costuma ser noutras partidas, uma arbitragem miserável que foi deixando metade das faltas por assinalar e vários cartões no bolso (mas deu para amarelar Acuña sem motivo e deixá-lo de fora do clássico), e que não escondeu a pressa que tinha em acabar o jogo (4 minutos de descontos é absurdo considerando as substituições e as paragens que existiram), e ainda um relvado a atirar para o pelado digno dos distritais (imaginem se estivesse a chover).
No entanto, nada disso apaga aquilo que não conseguimos fazer em campo. Os fatores mencionados acima são detalhes face ao principal da história do jogo de ontem: se o Sporting perdeu em Tondela, deve-o a si próprio em primeiro lugar.
Pela forma como se desenrolou, ficou evidente que o jogo começou a ser perdido na convocatória. A não ser que já se tenha percebido que Luiz Phellype é um erro de casting, certamente que o brasileiro dificilmente não teria feito pior figura que Diaby (aquele gesto técnico no cabeceamento na cara de Cláudio Ramos demonstra bem que não é ponta-de-lança) e Montero (compreensivelmente sem ritmo). A explicação dada por Keizer ("não é de uma semana para outra que se passa de um clube da II Liga para o Sporting") não é mentira, mas a confiança dada ontem a Diaby e Montero foi um erro de avaliação que pode ter custado pontos. Acabaram também por ser decisivos os primeiros minutos da partida, que estiveram na linha dos jogos anteriores: o adversário voltou a entrar mais forte mas desta vez marcou mesmo, num lance em que Bruno Gaspar e Mathieu ficaram muito mal na fotografia. Mathieu, que mais tarde também ficaria a dormir enquanto Tomané se desmarcava para fazer aquele que, provavelmente, será o golo da sua vida (outra daquelas coisas que acontece tanto nos nossos jogos).
Mas mesmo tendo sido mal preparado o jogo, não é admissível que a equipa, tendo 85 minutos pela frente, se tenha mostrado tão intranquila e tenha feito uma exibição tão pouco esclarecida, ainda mais tendo estado cerca de meia hora em superioridade numérica. E ainda mais num jogo que antecede um clássico que nos poderia relançar na corrida pelo título.
Ganhar ao Porto continua a ser uma obrigatoriedade, mas é um obrigatoriedade que já nada tem a ver com a liderança no campeonato. Com esta derrota, com este atraso de 8 pontos, com um plantel tão curto de soluções e tão carente de qualidade em determinadas posições, não vale a pena estarmos a pensar nisso.