À hora que escrevo este texto, ainda não está confirmado oficialmente quem será o novo treinador do Sporting. O nome mais mencionado é o de Silas que, dos vários que têm vindo a ser lançados como hipóteses para suceder a Keizer, é o que mais me agrada. Mas o facto de ser o nome que mais me agrada de um pequeno universo que inclui Quique Setién, Abel Ferreira, Pedro Caixinha e Pedro Martins… pouco significa por si só.
Foto: record.pt |
Gostei do trabalho de Silas no Belenenses, apesar do despedimento recente. Pôs a sua equipa a jogar de forma personalizada e positiva não tendo um plantel particularmente rico ao seu dispor, parece ter as ideias bem estruturadas e tem ainda o bónus de ser um sportinguista assumido. Mas isso não quer dizer que esteja já preparado para assumir um desafio em que o nível de exigência e pressão são incomparáveis aos que conheceu na sua curta carreira de treinador, e muito menos nas condições em que vai apanhar o clube caso se concretize a sua contratação.
Considerando que já passaram 23 dias desde o despedimento de Keizer e 22 dias desde que Silas foi dispensado do Belenenses, é completamente evidente para os adeptos e, sobretudo, para os jogadores que terá de comandar, que o treinador não é a primeira escolha (provavelmente nem sequer será a décima escolha) de Varandas. Juntando isto ao seu curto currículo (não tendo o nível 4 de treinador, não se pode levantar do banco para dar instruções aos jogadores nem comparecer nas flash interviews) e às circunstâncias que vai encontrar – sem tempo para implementar rotinas, sem hipótese de mexer a curto prazo num plantel mal construído e desmoralizado, e com a paciência dos sócios esgotada –, significa que entrará no clube numa situação muito frágil. Demasiado frágil.
Acresce que a direção de Frederico Varandas não deve encarar Silas como apenas mais um treinador. Depois do fracasso de Keizer enquanto treinador de projeto e da falta de competência demonstrada na construção deste plantel, ficou agora completamente exposta a incapacidade de recrutamento de um substituto com provas dadas e, consequentemente, a ausência de um plano B viável. Mais: a diversidade de nomes que surgiu na imprensa deixa entender que, mais do que andar à procura de um determinado perfil, a direção já só anda à procura de um treinador que… aceite o enorme desafio que lhe é proposto - o que não é nada bom sinal. Começam a ser fracassos a mais, e parece-me que Silas será a última oportunidade que esta estrutura de futebol terá para demonstrar que merece a responsabilidade que lhe foi atribuída. Se Varandas, Hugo Viana, Beto e departamentos de suporte não ajudarem Silas a transformar-se no treinador de que o Sporting precisa, esgotarão a tolerância dos poucos que ainda lhes dão o benefício da dúvida.
Se contratarem Silas (ou outro treinador que seja), tratem-no desde o primeiro minuto como se fosse realmente a primeira opção. O pior que pode acontecer é parecer um treinador a prazo. No caso de Silas, falamos de um homem do futebol português, um homem de balneário, um homem com personalidade e convicções. É fulcral que a estrutura perceba exatamente as áreas em que o treinador precisa de aconselhamento e apoio, e quais as áreas em que não deve interferir – algo que, nitidamente, não correu nada bem com Keizer.
Também ajudaria se a direção e estrutura tivessem a humildade de reconhecer publicamente alguns dos erros graves que cometeram, não só para percebermos que houve um diagnóstico do que correu mal e ações corretivas, mas também para que o novo treinador ganhe alguma folga junto dos adeptos.
Que não haja ilusões: o futuro da estrutura (e muito provavelmente da direção) será igual ao futuro do próximo treinador. Para o melhor e para o pior.