Estou à vontade para escrever o que vou escrever porque votei nesta direção e dei-lhe o devido tempo para porem em prática as suas ideias. Optei por esperar para ver como reagiriam às primeiras dificuldades que apareceram, tentei sempre balancear os bons sinais que iam sendo dados com os maus e vice-versa, nunca me esquecendo das complicações estruturais e conjunturais que enfrentavam nem da base boa que havia para trabalhar. Percebia a dificuldade da missão da direção eleita em setembro de 2018, apesar de nunca ter concordado com a expressão herança pesada, usada até à exaustão ao longo do último ano e picos – é verdade que a herança tinha complicações de resolução delicada, mas também incluía ferramentas que ajudavam a resolvê-las… como o chorudo contrato televisivo que foi utilizado para tapar o buraco de tesouraria. Há quem ache que isto é querer estar bem com Deus e o diabo, querer sol na eira e chuva no nabal, mas, para mim, talvez por deformação profissional, não sou capaz de ver a realidade apenas a preto e a branco. Falar é fácil, mas planear bem e executar em conformidade não é para todos... ainda mais quando se trata do Sporting.
Da parte desportiva, no que ao futebol diz respeito, creio que já ninguém anda iludido em relação à (falta de) competência de quem manda. A "estrutura altamente profissional" falhou em toda a linha: construiu um plantel de forma completamente amadora - com carências evidentes e assente na contratação de jogadores medianos -, foi incapaz de convencer um verdadeiro treinador de projeto a pegar na equipa em duas ocasiões distintas, as lesões sucedem-se sem que alguém dê explicações e estimativas para o regresso dos atletas e a preparação física da equipa é uma anedota. Estamos condenados a assistir a um ano de exibições que oscilarão entre o sofrível e o embaraçoso, a não ser que Silas faça um milagre. Do ponto de vista desportivo, a competência da equipa montada por Varandas merece ser equiparada à da de Godinho Lopes. Felizmente, ainda há uma diferença fundamental (pelo menos por enquanto) entre as duas direções: a de Varandas tem sido responsável do ponto de vista financeiro.
A competência mostra-se sobretudo nos detalhes, mas quando analisamos os detalhes - em quase todas as áreas - as conclusões são confrangedoras. Falta rigor, falta profissionalismo, falta exigência, falta noção, falta memória. A quantidade de más decisões é diretamente proporcional às banais frases “inspiradoras” que foram nascendo nas paredes da Academia, de onde se destaca um espaço dedicado à liderança por exemplo que inclui um ex-capitão cujo último exemplo dado aos colegas, nessas funções, foi dar o mote às rescisões em massa ao ser o primeiro a romper com o clube. Uma homenagem incompreensível feita pela mesma direção que decidiu ignorar oficialmente a conquista inédita do nosso judoca Jorge Fonseca por ter cometido o gravíssimo e imperdoável pecado de dar um par de entrevistas não autorizadas.
Há que reconhecer que não tem faltado coragem a estes órgãos sociais ao nível do combate interno. Para além da mesquinha punição ao campeão do mundo de judo e dos recados mandados à oposição que se começa a organizar, observa-se que o conflito com as claques está a ser conduzido com mão de ferro - a violência contra elementos dos órgãos sociais é inaceitável e tem de ser punida severamente, mas será que não deveria haver o bom senso de separar os responsáveis por esses atos dos outros milhares de elementos que nada têm a ver com isso? - e há notícias que dão conta da abertura de processos disciplinares aos sócios que os insultaram nas AGs - vamos lá a ver o sentido de proporcionalidade que aí vem por parte do CFD. Há alguns membros dos órgãos sociais que continuam a parecer muito mais motivados em levar a cabo ajustes de contas com o que ainda resta do tempo de Bruno de Carvalho do que em cumprir as suas obrigações institucionais e fazer os possíveis para reduzir o nível de crispação existente.
Infelizmente, esta coragem demonstrada nos assuntos internos - e tão elogiada pela comunicação social - não encontra correspondência no combate externo, onde a estratégia parece ser incomodar o menos possível. Como se viu ainda nas últimas duas jornadas, as arbitragens continuam a prejudicar-nos ostensivamente e não se ouviu uma palavra que fosse de um representante do clube.
Infelizmente, esta coragem demonstrada nos assuntos internos - e tão elogiada pela comunicação social - não encontra correspondência no combate externo, onde a estratégia parece ser incomodar o menos possível. Como se viu ainda nas últimas duas jornadas, as arbitragens continuam a prejudicar-nos ostensivamente e não se ouviu uma palavra que fosse de um representante do clube.
São apenas alguns de inúmeros exemplos que revelam uma desconexão demasiado evidente para aquilo que os sócios esperam da direção: competência transversal a todas as áreas, promoção efetiva da união e defesa intransigente dos interesses do clube. Os resultados do futebol são o que são, os níveis de desmobilização dos sócios são assustadores e ninguém da direção assume responsabilidade pelo que de mau se tem passado. Pior: o presidente não dá indicações de ter consciência dos erros cometidos, que seria o imprescindível primeiro passo para os poder corrigir. Pelo contrário, parece que vivemos num estado de negacionismo - o edifício está em risco de colapsar, mas a única medida concreta é mandar pintar as paredes e convidar os jornalistas para uma visita guiada para que possam fazer reportagens do quão bonitas estão.
Não penso que a melhor maneira de resolver o problema seja necessariamente a realização de eleições imediatas - o clube não aguenta continuar a viver em campanha permanente e, pior, não há qualquer garantia de que os próximos sejam aquilo de que o clube precisa -, mas é imprescindível que Varandas e a sua equipa ganhem (e mostrem) noção do desastre que está a ser o seu trabalho e comecem a tomar ações corretivas de imediato. Ações corretivas que terão de incluir, imediata e impreterivelmente, a contratação de um diretor desportivo de créditos firmados que conheça o universo futebolístico e o mercado como a palma da sua mão para um projeto de reconstrução nunca inferior a três anos e livre de ingerências dos cientistas da bola que têm contribuído para nos meterem na atual situação. Caso contrário... estar-se-á apenas a adiar o inevitável.