domingo, 31 de dezembro de 2017

A opinião de Ribeiro Cristóvão sobre os últimos escândalos do futebol português

Excelente vídeo da página Baluarte Dragão a mostrar a forma diametralmente oposta como, no espaço de apenas 48 horas, Ribeiro Cristóvão comentou o caso de aliciamento de jogadores do Rio Ave no âmbito de apostas desportivas e o caso de aliciamento de jogadores do Rio Ave por empresários ligados ao Benfica.

Os comentários de Ribeiro Cristóvão são vergonhosos de tão tendencialmente parciais que são - o que não é novidade para ninguém -, e é igualmente vergonhoso que a SIC continue a dar tempo de antena a este indivíduo.



sábado, 30 de dezembro de 2017

Notícia da RTP: há cinco jogos do Benfica de 2015/16 sob suspeita

Segundo a RTP, a PJ está a investigar cinco jogos do Benfica, da temporada 2015/16, de eventuais aliciamentos a jogadores de equipas adversárias. É também referido que os telemóvel de dois jogadores do Rio Ave, Cássio e Marcelo, possuem indícios fortes de alegado aliciamento.

De acordo com a mesma notícia, os telemóveis de Nadjack e Roderick já terão sido devolvidos pela PJ aos jogadores, que não participaram no Rio Ave - Benfica.

Aqui fica a peça da RTP, para quem não teve oportunidade de ver.



Suspeita de compra de resultado do Rio Ave - Benfica de 2015/16

A CMTV divulgou ontem a informação de que a Polícia Judiciária está a investigar uma abordagem de empresários ligados ao Benfica a jogadores do Rio Ave para que estes facilitassem a vitória ao clube encarnado. O jogo refere-se à 31ª jornada da época de 2015/16, altura em que o Benfica liderava a classificação com dois pontos de avanço sobre o Sporting, não tendo margem para perder pontos - pois o Sporting tinha vantagem no confronto direto.

É certo que uma notícia CMTV vale o que vale, mas Francisco J. Marques validou-a com o seguinte tweet:




A suspeita terá partido de um testemunho recolhido pela PJ no âmbito do caso de compra de resultado do Feirense - Rio Ave. Rumores paralelos dizem que o empresário em causa será César Boaventura, que já era conhecido por ser - alegadamente - o homem da mala do Benfica.

Veremos como se desenvolverá este tema. A forma como o Benfica conquistou o título de 2015/16 foi uma vergonha, e este jogo nem sequer foi dos mais escandalosos. Definitivamente, não faria parte do meu top 3 de suspeitas.

Aqui fica a peça da CMTV sobre o caso.



sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A peça da TVI sobre os salários do Sporting

Um dia depois de terem sido divulgados na internet vários contratos de trabalho de jogadores do Benfica, a TVI "teve acesso" aos salários que o Sporting pagou aos seus atletas na época 2016/17 e noticiou-a no Jornal das 8. A coincidência é extraordinária, porque veio mesmo a tempo de diluir a atenção da informação que tem sido libertada sobre o Benfica e, ao contrário dos salários pagos pelo Benfica, falamos de dados que não são nem nunca foram do domínio público... até agora.

Obviamente, não é preciso um grande esforço mental para perceber de onde terá chegado a informação, não fosse a TVI uma estação completamente comprometida com os interesses do Benfica.

Mas como se não bastasse esta permeabilidade editorial aos interesses de um determinado clube ao nível dos conteúdos que colocam no seu principal espaço de informação, é ainda mais esclarecedor (e deprimente) ver que a TVI não fez qualquer tipo de escrutínio e avaliação da qualidade da informação que lhes foi parar às mãos. Engoliu sem mastigar. Ou melhor, até mastigou, mas só depois de regurgitar algo que já estava em processamento no estômago. Já me vou explicar melhor.

Em primeiro lugar, eis como Pedro Pinto - que, curiosamente, já protagonizou várias gaffes que não caíram bem junto dos adeptos portistas - apresentou a peça:


"A TVI teve acesso". Passemos agora ao sumo da "notícia":


Dividindo o conteúdo da peça por partes, ficamos com:

1. Alan Ruiz, "a contas com um processo disciplinar" é o mais bem pago
2. É seguido por Dost, Coates, Patrício
3. "Destaque ainda para Joel Campbell"
4. E Castaignos, que fez apenas 13 jogos, recebia 110.000€
5. Para acabar fizeram ainda referência a Gelson, um dos jogadores que recebe menos (já não está neste vídeo)

Não é preciso ser-se uma pessoa muito atenta à vida do Sporting para perceber que esta tabela só pode estar errada. Alan Ruiz está muito longe de ser o jogador com o maior salário do clube (suponho que ganhe à volta de metade do que a TVI "noticiou"). Também acho estranho não aparecerem ali alguns jogadores que eram dos mais bem pagos em 2016/17, como Adrien Silva ou Bryan Ruiz.

Nuno Saraiva, pouco depois, desmentiria a veracidade desta tabela na sua página de Facebook:


Não é complicado perceber o objetivo da TVI ao aceitar realizar esta peça nestes moldes e no momento em que o fez. A preocupação que revelaram em relembrar que o jogador com maior salário (o que é mentira) está a contas com um processo disciplinar, e de mencionarem o salário de Castaignos (por ter sido um flop) quando deixaram de fora outros jogadores bastante mais relevantes (em termos de peso na equipa e na massa salarial), demonstra que a ideia passava por procurar desestabilizar o Sporting, ao mesmo tempo em que desviam as atenções dos salários dos jogadores do Benfica - onde, aí sim, há matéria relevante para investigar (Jonas).

Mas a história não acaba aqui.

Um pouco mais tarde, a TVI24, no programa MaisTabaco, voltou à carga com esta "notícia". Aqui fica a parte principal dessa peça. Tentem ver se encontram alguma diferença em relação à que foi mostrada no Jornal das 8...


Miraculosamente, Campbell desaparece da tabela e da peça por completo (percebe-se: não tendo qualquer vínculo com o Sporting, deve ter perdido o interesse para a TVI), aparecendo agora o salário de William Carvalho (que de certeza não era o 5º mais elevado do plantel de 2016/17). Mas, curiosamente, a parte de Castaignos ainda se mantém.

Se existissem dúvidas da motivação de quem fez este magnífico trabalho jornalístico, aqui ficam completamente dissipadas.

Esta é a TVI de Guerra, Braz, Aguilar, Diamantino e Moniz. Não me vou pronunciar sobre o resto, mas quando o assunto é futebol, há mais preocupação em desinformar do que informar, se isso for conveniente a um determinado clube.

O negócio Rafa

Nas últimas horas da janela de transferências do defeso de 2016/17, o Benfica chegou a acordo com o Braga para a contratação de Rafa. Segundo o comunicado à CMVM, a SAD benfiquista adquiriu a totalidade dos direitos económicos ao Braga e à Onsoccer por uma verba total de 16,4 milhões de euros.


Os documentos divulgados na passada quarta-feira confirmam que, de facto, foram esses os montantes envolvidos na transferência. Antes de a venda se concretizar, os direitos económicos do atleta encontravam-se divididos da seguinte forma:
  • Braga: 80%
  • Feirense: 10%
  • Onsoccer: 10%

O Feirense era o clube de Rafa antes da mudança para Braga, enquanto a Onsoccer é a empresa de António Araújo, o agente de Rafa.

A transferência concretizou-se através da assinatura de dois contratos. O primeiro, entre os dois clubes, no qual o Benfica pagava 16 milhões de euros pelos 90% dos direitos económicos de Rafa detidos por Braga e Feirense...


... remetendo a aquisição dos 10% remanescentes para uma negociação separada com a Onsoccer:


De notar que a aquisição dos 10% da Onsoccer era um passo obrigatório, pois, em desde maio de 2015, é probido que entidades que não sejam clubes fiquem com percentagens de direitos económicos de jogadores transferidos. 

O documento de aquisição desses 10% também foi divulgado. Aí pode ver-se que o Benfica pagou 400.000 euros à Onsoccer (elevando o montante da transferência para os 16,4 milhões mencionados no comunicado à CMVM).


Considerando que o Braga recebeu 16 milhões por 90% dos direitos económicos, então seria de esperar que os 10% da Onsoccer fossem valorizados em cerca de 1,8 milhões. No entanto, não foi isso que aconteceu: esses 10% foram avaliados por um valor bastante inferior. Seria uma negociação bastante vantajosa para o Benfica, não fosse o ponto seguinte do contrato:


Portanto, apesar de ter cedido os 10% dos direitos económicos que detinha - a troco de 400.000 euros -, a Onsoccer manteve direito a 10% do valor de uma futura transferência, deduzidos das eventuais comissões de intermediação que possam existir. Na prática ficaram na mesma, mas com mais 400.000 na conta bancária.

Poderão perguntar se isto não terá sido uma compensação pelos serviços prestados enquanto intermediários no negócio entre Braga e Benfica. Não foi, pois ainda existe um contrato adicional que recompensa a Onsoccer pelos serviços prestados nesta transferência.


Apesar de ser razoável assumir que a amizade entre Vieira e Salvador deveria permitir dispensar um intermediário que os sentasse à mesma mesa, o Benfica comprometeu-se a pagar ao intermediário Onsoccer...


... 200.000 euros por cada época em que Rafa se mantiver vinculado ao clube (ou seja, até à data, o Benfica pagou 400.000 euros) até um máximo de 800.000 euros ao longo de quatro anos. Mas não é só: pelos serviços de intermediação, a Onsoccer garantiu também...


... uma procuração para vender o jogador a partir da época seguinte. A compensação por tais serviços futuros ficou também logo definida. Se a Onsoccer for intermediária exclusiva...


... terá direito a mais 10% do valor da transferência, que acumulam com os outros 10% a que já tinham direito pela cedência da sua parcela dos direitos económicos de Rafa. No entanto, existe outro cenário possível: e se a Onsoccer não for intermediária exclusiva de uma futura transferência? (ou, colocando de outra forma, e se for, por exemplo, o freguês do costume - Jorge Mendes - a intermediar uma futura venda?)


Reparem no texto: "independentemente da existência ou prova de qualquer nexo de causalidade entre a atividade desenvolvida pelo INTERMEDIÁRIO e a transferência do JOGADOR". Isto significa que a Onsoccer pode não ter nada a ver com a transferência, mas receberá sempre 5% do valor de uma futura venda, independentes dos 10% (hmmmm, quem é que costuma cobrar sempre 10%?) que o intermediário efetivo terá direito.

Portanto, no dia em que o Benfica contratou Rafa ao Braga, comprometeu-se a entregar a terceiros 20 ou 25% da verba que receberá de uma futura transferência, dependendo do intermediário que venha a estar envolvido na operação (20% se for a Onsoccer em exclusivo, ou 25% se for outro o intermediário).

Lembrar-se-ão, de um post anterior, que o Benfica não costuma publicar no relatório e contas os custos contingentes de futuras vendas. Abriu uma exceção no 1º semestre de 2016/17, altura em que detalhou alguns casos, como o de Ederson. Nesse R&C também detalharam o de Rafa. Fizeram-no da seguinte forma:


"Existem compromissos para entregar 10% do valor de uma transferência" de Rafa? Era bom, era...

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Os 22 campeonatos do Sporting

Excelente vídeo publicado pelo Sporting, que explica por que razão os Campeonatos de Portugal devem ser considerados como campeonatos nacionais. De visualização e partilha obrigatória. 


Aqui fica o texto publicado por Bruno de Carvalho na apresentação do vídeo:



ESTA É A VERDADEIRA COMISSÃO DE ESPECIALISTAS!

22 TÍTULOS DE CAMPEÕES NACIONAIS, A VERDADE A QUE TEMOS DIREITO


Desde 2015, quando sozinho iniciei esta luta pelo reconhecimento das 17 edições do Campeonato de Portugal como título máximo do nosso futebol, até à recente declaração da Federação Portuguesa de Futebol em criar uma comissão de especialistas para emitir um parecer técnico sobre a questão dos títulos, muita coisa aconteceu no futebol português. A história centenária do futebol português não pode ser reescrita nem alterada, ainda para mais quando as competições foram disputadas com lealdade e cumprindo com todos os regulamentos.

Podem demorar o tempo que quiserem que a verdade não pode ser adulterada, ou seja, o Campeonato de Portugal (entre 1922 e 1938) era, como aliás está inscrito no site da Federação Portuguesa de Futebol e reconhecido pelos jornais da época, a competição que servia para apurar o campeão nacional de futebol.

Divulgo hoje, em primeira mão, um breve vídeo em que é explicada toda esta questão e em que são apresentados aqueles que são os nossos principais argumentos, aqueles que o Sporting Clube de Portugal considera relevantes, desde o primeiro momento (e a que só agora outros clubes que venceram também o Campeonato de Portugal começam a juntar-se e, desta forma, a honrar as páginas mais bonitas das suas histórias):

JORNAIS DA ÉPOCA

Dezenas de publicações diferentes com o mesmo entendimento:
Campeonato de Portugal = Campeonato Nacional

OUTROS REALIDADES

Serie A (Itália) e Bundesliga (Alemanha) são casos iguais ao nosso;
Mundiais de 1934 e de 1938 disputados na integra em sistema de eliminatórias;
UEFA não reconhece a Taça Latina pois era disputada apenas por 4 países;

CAMPEONATO EXPERIMENTAL

‘Experiência’: substantivo feminino que é um ensaio ou tentativa;
‘Experiência’: palavra que surge dezenas de vezes nas actas da FPF entre 1934 e 1938;
Sistema fechado apenas a 4 associações de futebol: Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal;
Fase de qualificação para a disputa do título máximo: o Campeonato de Portugal;

Toda esta informação pode ser consultada de forma detalhada em www.sporting.pt/averdade.

É lamentável que em Portugal ainda existam media que não são totalmente livre, que se demitem de procurar a verdade, e que tenha que ser um clube a fazer todo um trabalho de investigação com base nos jornais da época, nas actas/documentação da própria Federação Portuguesa de Futebol e na regulamentação (entenda-se o modelo competitivo) das provas nacionais existentes em Portugal entre 1922 e 1938.

Votos de um excelente 2018… esperando que haja uma decisão, pelo menos, até 2021 (ano em que Portugal celebra o centenário da realização dos campeonatos nacionais, sendo que a lógica diz que terão de haver 100 campeões e não apenas 83).

O estádio mais seguro do mundo

Chefe Afonso, da esquadra de Benfica. Chefe Cruz. Carlos Elias, da PJ. Chefe Simões, do DIAP. Agente Barreira, da PSP de Alcântara. Correia, também da PSP de Alcântara. Chefe Luís, do DIAP. E ainda João Polícia, do aeroporto, ficando a dúvida se não será apenas João, da polícia do aeroporto. Perante tal conjunto de agentes da lei, poderíamos muito bem estar perante alguma task force formada no âmbito da segurança pública, mas, na realidade, não é nada disso que se trata: são apenas os convidados de Luís Filipe Vieira para o Benfica - Sporting e/ou Benfica - Galatasaray de outubro de 2015.


Repare-se no título do quadro: está escrito, explicitamente, que são convidados do presidente.

Os convites não são para o camarote presidencial, normalmente reservado a figuras de maior relevo, mas de qualquer forma, havendo o dedo do presidente, acaba por ser um prémio de consolação bastante interessante. Como será que o protocolo do clube caracteriza este tipo de convites? Segundo um dos documentos ontem divulgados, um convite para o camarote presidencial significa o seguinte:

Guidelines do Protocolo (formerly known as Relações Públicas), via @Jangmeister

É bonito ver que, depois de incluir vários inspetores e juízes na sua Comissão de Honra para as eleições de 2012, o presidente benfiquista continua a demonstrar apreço por quem assegura a lei e ordem em Portugal: no total, foram 28 bilhetes oferecidos a agentes da autoridade, certamente escolhidos aleatoriamente de entre milhares de profissionais, como forma de agradecimento desinteressado de Luís Filipe Vieira pelo trabalho diário que fazem em prol da segurança dos cidadãos.

Felizmente que o Benfica é um clube que nunca aparece envolvido em casos de polícia, caso contrário talvez houvesse motivos para ficarmos preocupados perante este nível de proximidade. 

De qualquer forma, entre os agentes destacados para garantir a segurança do jogo, entre os stewards e os spotters, e entre os múltiplos convidados presidenciais na bancada, dificilmente terá alguma vez existido estádio mais seguro do que a Luz nesse final de tarde de outubro de 2015...

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

É um destes para o próximo jogo, sff

Um dos golos marcados ontem no treino solidário: boa combinação entre Bruno Fernandes e Podence, com jogada iniciada e concluída pelo primeiro, e que vem na sequência de um conjunto de bons entendimentos protagonizados pelos dois na partida com o Portimonense.

Por mim, podem fazer outro destes já na sexta... se por acaso não jogarem no Restelo, não me importo que fique adiado para o dia 3.





Janela & Diamantino: o ventríloquo e o boneco

Na sequência do email que Carlos Janela enviou para Diamantino com as perguntas que este último deveria colocar a Luís Filipe Vieira na entrevista que, nesse dia, teria lugar na TVI, o Porto Canal fez uma comparação entre as questões idealizadas por um e executadas por outro.

Ver Diamantino a abrir e fechar a boca ao ritmo dos desejos de Carlos Janela é um número que, apesar de previsível, não deixa de ser divertidíssimo. A única dúvida é em que orifício ou alavanca do corpo de Diamantino anda Janela a pôr a mão para o comandar...



domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Natal

Boas festas para todos, com desejos de muita saúde, prendinhas e, claro, que possam estar rodeados por todos os vossos meninos queridos (e meninas, não discriminemos), tal e qual o Paulo Gonçalves em dia de jogo nos camarotes da Luz! ;)

sábado, 23 de dezembro de 2017

O negócio Jimenez

Ontem, ao final, foram divulgados os contratos referentes à transferência de Raul Jimenez do Atlético Madrid para o Benfica. O seu conteúdo confirma os elevados valores que já se conheciam - surpreendentes, considerando o rendimento do jogador mexicano em Espanha e o facto de ter sido uma das mais caras aquisições de sempre do futebol português -, mas vêm acrescentar mais alguns pormenores que tornam todo este negócio ainda mais estranho. Vale a pena lerem até ao fim.

Comecemos pelo princípio: em agosto de 2015, o Benfica anunciou a contratação do jogador. Os valores despendidos conferem com o que se sabia: os encarnados pagaram 9 milhões de euros ao Atlético Madrid por 50% dos direitos económicos do atleta...


... o jogador recebeu 202.500 euros em prémio de assinatura, enquanto o empresário recebeu 750.000 euros pelos serviços de intermediação. O total da operação rondou, portanto, os 10 milhões de euros.

Um ano mais tarde, o Benfica adquiriu os restantes 50% por 12 milhões de euros, elevando o montante total do negócio para 22 milhões de euros.


Conforme se devem lembrar, a aquisição do jogador causou alguma estranheza. Em 2015, porque o Benfica pagou 9 milhões por metade do passe de um jogador que teve uma época discreta em Espanha (marcando apenas um golo), quando, um ano antes, o Atlético Madrid tinha pago 10,5 milhões pela totalidade do passe ao América. Convenhamos que 9 milhões seria um valor justo pela totalidade do passe, e não por metade. Em 2016, a surpresa ainda foi maior: Jimenez não fez uma primeira época propriamente deslumbrante (12 golos em 45 jogos), mas o Benfica aceitou pagar um valor ainda maior pela outra metade do passe.

No entanto, existem um par de pormenores nos documentos ontem revelados que fazem com que este negócio seja ainda mais peculiar.

Em primeiro lugar, não havia nada no contrato de transferência dos primeiros 50% dos direitos económicos que obrigasse o Benfica a adquirir os restantes 50%. Considerando o rendimento do jogador e os valores em causa (12 milhões), só podemos concluir que o Benfica tomou uma decisão muito pouco racional.

Depois, é preciso olhar para os encontros de contas referentes aos vários negócios realizados entre os dois clubes. Neste caso, os 12 milhões da segunda metade dos direitos económicos de Jimenez serviram para abater os 25 milhões de dívida que o Atlético tinha para com o Benfica por Nico Gaitán...


,,, ficando o Atlético a dever apenas 13 milhões de euros, a pagar em três tranches:


E agora podemos encaixar outra peça do mesmo puzzle: a aquisição das opções de compra de Lucas Hernandez e Borja Bastón por 2,5 e 1,5 milhões, respetivamente (LINK). Dos 13 milhões em dívida, o Atlético pagou ao Benfica a primeira tranche de 4,3 milhões, ficando a dever 8,7 milhões...


... mas, depois, voltando a abater a dívida usando os 2,5 milhões devidos pelo Benfica pela aquisição dos direitos de Lucas Hernandez, colocando o valor da dívida em 6,2 milhões, e com o Benfica a ficar a dever 1,5 milhões pela opção de Borja Bastón. 


Na prática, o Atlético ficou a dever apenas 4,7 milhões ao Benfica.

Reparem no que isto significa: o Atlético adquiriu Gaitán por 9 milhões de euros (4,3 da 1ª tranche + 4,7 do que ficou em dívida) + 50% ultrainflacionados de Jimenez + duas opções de compra que não serviram de nada. Considerando que o Benfica aceitou cobrir, por 50%, praticamente a totalidade do investimento que o Atlético tinha feito por 100% de Jimenez (e não se pode dizer que o mexicano se tenha valorizado em Madrid, antes pelo contrário), então podemos considerar os 12 milhões como uma espécie de componente virtual dos negócios entre os dois clubes e que, na prática, o proveito que o Benfica obteve da venda de Nico Gaitán se limitou a 9 milhões de euros: os 4,3 milhões que o Atlético pagou da 1ª tranche pós encontro de contas entre as transferências de Gaitan e Jimenez, e os 4,7 milhões que ficou a dever após se deduzir as opções de compra de Lucas e Borja. Resta saber se esses 4,7 milhões foram efetivamente pagos, ou se entretanto apareceu mais uma dívida de outra aquisição de uma opção de compra para compensar parte desse valor... quando estes dois clubes se juntam, nunca se sabe.

Colocadas as coisas desta forma, não parece um negócio muito bom para o Benfica, pois não?

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

"Preço atrativo na negociação com as claques"

Entre os emails de Luís Bernardo é possível encontrar-se várias atas da Comissão Executiva da SAD (reunião em que os vários diretores fazem um ponto de situação da área que lideram, com a presença de elementos da administração - entre os quais está Domingos Soares Oliveira).

Numa dessas atas, pode ler-se o seguinte:



Não é que fosse necessário algum novo documento para demonstrar o que toda a gente sabe - ao longo dos últimos meses foram divulgados vários elementos que provam que as claques do Benfica usufruem de condições especialíssimas que não estão disponíveis para o sócio comum -, mas aqui fica mais uma evidência: numa reunião de altos quadros da SAD, DSO (que se presume ser Domingos Soares Oliveira, administrador executivo) comentou que era o momento de aumentar o preço médio dos lugares de época, o que permitiria "albergar um preço atrativo na negociação com as claques".

As claques do Benfica são uma realidade bem visível, tal como os apoios recebidos do Benfica com a benção da administração da SAD. Só mesmo o IPDJ é que parece não se ter ainda apercebido disso...

A Blog's Tale

No arquivo dos emails de Luís Bernardo, é possível encontrar uma troca de mensagens data de novembro de 2016, em que estão a ser definidos os objetivos estratégicos da comunicação externa para a época de 2016/17. Esse plano contém também algumas iniciativas para alcançar esses objetivos, sem se entrar em grandes detalhes.

Após alguns conselhos e pedidos de correção ou afinação do conteúdo do documento em causa, os objetivos da equipa de Luís Bernardo foram aprovados por Domingos Soares Oliveira. Eis, então, quais foram as grandes linhas orientadoras para a comunicação externa do Benfica para 2016/17:


Destaquei a amarelo alguns pontos que achei mais interessantes. Por exemplo, é objetivo do Benfica desenvolver um plano informal que permitisse ao clube controlar os meios de voto eletrónico (interpreto isto como o resultado dos televotos de programas como o Dia Seguinte ou Tempo Extra) e fóruns, de forma a obter 75% de opiniões que lhe fossem favoráveis. Também achei curiosa as 50 notícias positivas para a afirmação de Luís Filipe Vieira e da estrutura do Benfica, e ainda a "implementação de mecanismo de resposta e guerrilha institucional".

Mas não é nenhum destes tópicos que me traz aqui hoje. A história que eu quero contar refere-se à célula do Excel que contém a seguinte informação: "10 novos blogs". Como interpretar isto? A conclusão mais óbvia é que o Benfica tinha como objetivo a criação de dez novos blogs que ajudassem a passar a sua mensagem.

Dos emails que existem no arquivo de Luís Bernardo, não há nada que sugira que os dez novos blogs tenham sido efetivamente criados, mas é possível perceber que houve pelo menos uma tentativa, não muito bem sucedida, para criar um. Tudo começou assim, alguns meses mais tarde:


Janela quer um "Blog de grande qualidade e impacto" e quer tê-lo em funcionamento o mais rápido possível. Os trabalhos devem ter começado de imediato, pois, uma semana mais tarde, surge uma proposta de logotipo. Janela pediu a opinião a Luís Bernardo...


... que decidiu envolver os seus designers para fazerem uma proposta alternativa.


Aparentemente, ou os designers não estavam disponíveis, ou Janela não achou que se justificasse a espera, ou então simplesmente borrifou-se para a opinião de Luís Bernardo, pois o logotipo foi aprovado no próprio dia.


Vou poupar-vos algum tempo, resumindo os mails que se seguiram: depois do logo, foi o registo do domínio, depois questões sobre o layout. João Pedro fazia propostas a Janela, Janela pedia aprovação a Luís Bernardo que, por sua vez, chegou a pedir a opinião a uma colega sua da WL Partners. As coisas avançaram rapidamente, não tardando a aparecer algo palpável. Uma semana depois, estava tudo pronto para começar. Janela faz a sua proposta para as primeiras publicações.


O conteúdo é hilariante: não é mais do que uma versão modificada das cartilhas, dentro do mesmo estilo que já todos conhecemos. Isto é tão mau, que fico com dúvidas se Janela queria ou não fazer passar o Verdade Desportiva por um blogue isento.


Alguns dias mais tarde, novo mail com novos conteúdos...


... ficando perfeitamente claro que o que Janela quer é ter um blogue semelhante ao de Hugo Gil, mas com melhor português. E assim, lá continuaram as cartilhas online...


... até ao dia 5 de abril de 2017, data em que o blogue Verdade Desportiva publicou o seu último artigo:


O projeto de qualidade e impacto idealizado por Carlos Janela e Luís Bernardo acabou por ter uma vida curta e discreta - eu, que me considero uma pessoa relativamente atenta ao que se vai escrevendo em espaços do Sporting e dos seus rivais, não me lembro de ter alguma vez ter tido conhecimento deste blogue até estes emails terem sido divulgados. Ainda assim, mesmo considerando a pobreza dos conteúdos cartilhescos, confesso que não percebo como é que um blogue apoiado pelo Benfica tenha tido um voo que só pode ser equiparável ao de um milhafre depenado. Talvez seja melhor pedirem a outra pessoa para liderar o projeto dos nove blogues que ainda estão por criar...


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Good vibrations

Do ponto de vista técnico-tático, a goleada imposta ontem ao União da Madeira pouco significa, considerando as fragilidades naturais de um adversário do escalão interior que passa por uma crise bastante complicada - que já vai em rescisões por justa causa por salários em atraso -, mas há outro tipo de sinais positivos que se podem retirar desta partida.

A ideia de Jesus em levar a jogo uma equipa bastante aproximada da titular - apenas Salin e Doumbia não fazem parte do grupo de 13 jogadores que têm composto o núcleo duro do treinador - é facilmente compreensível, apesar de não estarmos a falar de uma competição prioritária: mantém a equipa com algum ritmo competitivo num período de paragem do campeonato de duas semanas e meia, não corre grandes riscos do ponto de vista físico (a equipa levou o jogo a sério, mas nunca necessitou de impor uma intensidade elevada) ou disciplinar (uma eventual expulsão limparia no jogo com o Belenenses), ao mesmo que tempo que, goleando, colocaria o Sporting numa posição privilegiada para garantir as meias-finais da Taça da Liga na terceira e última jornada desta fase de grupos.

Nesse sentido, parece-me que o investimento na partida de ontem deu o retorno de que Jesus estaria à espera. Analisando do ponto de vista individual, foi importante ver Doumbia a colocar novamente o seu nome na lista de marcadores: apesar de revelar ainda alguma ferrugem - o que é natural face à sua curta e irregular utilização - é fundamental que o costamarfinense comece a ganhar embalagem para dar o contributo que dele se espera na ultra-intensiva fase de jogos que (desejavelmente) teremos no primeiro trimestre de 2018. E Iuri deu finalmente um ar de sua graça, veremos se terá oportunidade de lhe dar continuidade frente ao Belenenses e mostrar ao treinador que pode contar com ele até ao final da época.

O resto do retorno mede-se na forma séria como a equipa encarou a partida, que denota compromisso com os objetivos do clube. Todos tiveram vontade de contribuir para o avolumar do resultado - basta ver como os centrais, à falta de desafios defensivos, faziam questão de se integrar ofensivamente, ou como, após os golos, Dost ia buscar a bola à baliza para a levar para o círculo central para acelerar o reatamento da partida -, e é visível o bom ambiente pela forma como se congratulavam mutuamente nos festejos e por outras pequenas interações que foram acontecendo.

Boa gestão e bom aproveitamento de um jogo que, à partida, nem teria muito para oferecer.





Separados à nascença



Reportando direitos de terceiros pela porta do cavalo

Depois de Domingos Soares Oliveira ter feito referência, de forma tão eloquente, a 50.000 euros que a FPF dos tempos de Madail pagou ao Benfica pela utilização do Estádio da Luz, parece-me que a expressão "porta do cavalo" se adequa a outros casos referentes às contas que a SAD encarnada tem reportado nos últimos anos.

Três exemplos. Comecemos por Ederson. Hoje, é sabido que o Benfica estava obrigado a entregar 50% do valor de uma transferência a terceiros (Jorge Mendes e Rio Ave). Este compromisso foi assumido, seguramente, na altura em que o Benfica resgatou o guarda-redes ao clube de Vila do Conde. No entanto, durante muito tempo, o Benfica omitiu essa informação nas suas contas. Por exemplo, nas contas anuais de 2015/16, a informação que foi dada ao mercado foi a seguinte:

100% dos direitos económicos...

R&C Benfica SAD, 2015/16, página 133

... e nenhuma obrigatoriedade considerada relevante para ser incluída na nota referente à repartição de futuros ganhos ou vendas de atletas.

R&C Benfica SAD, 2015/16, página 178

Algures no tempo, no entanto, a informação de que o Benfica não iria encaixar a totalidade (nem sequer perto disso) do montante de uma eventual venda de Ederson acabou por sair cá para fora, e o Benfica teve o cuidado, seis meses depois, no relatório semestral de 2016/17 (31 de dezembro de 2016), de divulgar os direitos reais que tinham, ou seja, 100% dos direitos económicos...

R&C Benfica SAD, 1º semestre de 2016/17, página 41

... mas com o compromisso de entregar, a terceiros, 50% das mais-valias numa venda futura.

R&C Benfica SAD, 1º semestre de 2016/17, página 61

Tardou, mas lá acabaram por acrescentar informação que nunca deveria ter sido omitida aos acionistas e ao mercado, pois metade das mais-valias de uma potencial venda de um atleta do plantel principal do Benfica não são trocos, seja ele quem for.

Isto leva-nos ao segundo exemplo: Samaris. Como puderam ler na terça-feira passada (LINK), o Benfica adquiriu 100% dos direitos económicos do jogador em agosto de 2014. Dois meses mais tarde, o Benfica cedeu metade dos direitos económicos do jogador grego ao empresário Horácio Mosquito.

E agora, a pergunta que se impõe: onde é que está isso indicado no R&C do Benfica? Em lado nenhum. Talvez tenham reparado nas imagens acima (que vou reproduzir novamente de seguida) que o Benfica diz ser detentor de 100% dos direitos económicos de Samaris...

R&C Benfica SAD, 1º semestre de 2016/17, página 41

... mas não há qualquer referência ao jogador grego na nota Ganhos futuros com a alienação de direitos de atletas, apesar de o Benfica ter cedido os seguintes direitos a Horácio Mosquito:


Por que razão não foi colocada essa informação nas contas?

Curiosamente, no relatório anual desta mesma época, emitido 6 meses mais tarde (referente 30 de junho de 2017), o Benfica voltou a omitir a informação sobre os futuros ganhos.

R&C Benfica SAD, 2016/17, página 158

Por que motivo terão voltado a não dar detalhes sobre os direitos de terceiros sobre futuras vendas? Como Ederson entretanto foi vendido, acharam que deixou de interessar?

De qualquer forma, nada disto é novo no Benfica. A divulgação do arquivo de emails de Luís Bernardo permitiu-nos saber que já existiu pelo menos um caso similar no passado, e que foi alvo de perguntas por parte do consórcio de jornalistas (dos quais o Expresso faz parte) que analisou fugas de documentos como o do Panama Papers. Refiro-me à venda de Oblak ao Atlético Madrid. Reparem na pergunta B6 (podem carregar na imagem para a aumentar):


Portanto, é mais do que óbvio que o Benfica tem vindo a omitir informação relevante sobre os direitos que cedeu dos seus atletas (nomeadamente as percentagens de mais-valias de futuras vendas), e, caso a informação do acordo com Horácio Mosquito por Samaris seja válida, continua a fazê-lo nas contas atuais. Perante a técnica de utilização da porta do cavalo, do que está a CMVM à espera para pedir esclarecimentos?

P.S.: como pode haver quem coloque a questão, eis como o Sporting reporta essa informação nos seus R&C.