quarta-feira, 30 de maio de 2018

Alguém viu o IPDJ?

No final do jogo do passado sábado entre Benfica e Sporting para o campeonato de hóquei em patins, registaram-se no final cenas que já passaram a fazer parte do quotidiano do panorama desportivo nacional.




(via Porto Canal)

Isto já tinha acontecido, por exemplo, quando o Benfica se deslocou a Alvalade para o campeonato de futebol. Infelizmente, o IPDJ deve ter metido férias ou não não deve ver qualquer problema neste tipo de incidentes quando os protagonistas vestem de vermelho. O mesmo IPDJ que teve uma reação forte e imediata quando, há um ano, os Super Dragões entoaram o cântico que fazia alusão ao desastre da Chapecoense para provocar o Benfica.

Já deu para perceber que o IPDJ só se mexe quando estão duas coisas em causa: a honra do Benfica ou pedidos de borlas para jogos do Benfica (recordar aqui). Tudo o resto é acessório.


Adiando o inevitável

Do ponto de vista institucional, o debate diário de comunicados do Conselho Diretivo contra comunicados da Mesa da Assembleia Geral a que temos assistido nos últimos dias é um upgrade em relação ao bate-boca Facebook vs Instagram entre presidente e jogadores que tivemos de suportar em abril, mas não é propriamente refrescante. Pelo contrário, a troca de argumentos e acusações a que temos assistido nos últimos dias de pouco tem contribuído para um esclarecimento real dos sportinguistas. O assunto é complexo, as interpretações dos estatutos não coincidem, e ficarei surpreendido se esta discussão não terminar na barra dos tribunais, considerando as posições antagónicas e aparentemente irreconciliáveis que separam as duas partes.

De um lado, a atuação de Jaime Marta Soares tem sido pautada por uma deprimente combinação da notável incompetência que já lhe era reconhecida, com motivações recém-surgidas que são pouco claras. Os avanços, recuos, voltas e reviravoltas que já protagonizou são dignos da mais elaborada das danças de salão, e tremo só de pensar na eventualidade de ter o bombeiro-comendador ao comando de uma das AGs mais potencialmente explosivas da história do clube.

Do outro, Bruno de Carvalho está empenhado em bloquear todas as iniciativas que o possam colocar à disposição da vontade dos sócios a curto prazo. Não é complicado perceber o que leva o presidente a seguir esta estratégia, havendo duas possíveis leituras: do ponto de vista dos interesses do clube, parece-me elementar que uma AG destitutiva ou eleições sejam empurradas para um período em que não haja uma época desportiva para preparar ou um empréstimo obrigacionista para concretizar; mas esse adiamento também é (muito) conveniente para a agenda do próprio Bruno de Carvalho, já que isso também lhe permitirá ganhar tempo para muitas cabeças esfriarem, para algumas crises expirarem ou serem resolvidas, e para mais títulos serem conquistados. Seja qual for o caso, o tempo corre a seu favor caso não surja uma nova catástrofe (knock on wood).

Mas mesmo num cenário em que o presidente consiga levar a sua avante (ou seja, não realizar a AG e marcar eleições a curto prazo apenas para a MAG e CFD), a sua legitimidade, muito afetada pelos acontecimentos recentes, não sairá minimamente reforçada. Pior, continuaremos a viver um cenário em que basta um par de demissões para fazer cair o Conselho Diretivo e sermos novamente arrastados para eleições - e sabe-se lá se isso acontecerá num bom ou num mau momento para o Sporting.

O melhor cenário - diria mesmo que o único cenário - para dar o muito necessário reforço de legitimidade é a marcação de eleições para todos os órgãos sociais, a realizar algures entre setembro e novembro - mantendo-se a atual direção em funções até lá. Olhando para o imbróglo estatutário em que estamos metidos, creio que deveria caber à própria direção tomar essa iniciativa. Qualquer solução que não passe por aqui será apenas o adiamento de algo que será inevitável. 

terça-feira, 29 de maio de 2018

Balanço de 2017/18: Médios



William Carvalho: **          
2016/17: **
2015/16: **
2014/15: **     
2013/14: ***

Mais uma época exibicionalmente irregular que, é justo que se diga, foi afetada pelas várias lesões que teve de enfrentar e pelo sistema de jogo de Jesus, que não favorece um médio com as suas características. Voltou a estar abaixo das expectativas, o que nos deveria levar a concluir que talvez sejam as expectativas que são demasiado elevadas. Não que o valor não esteja lá - é perfeitamente visível a diferença de um Sporting quando tem um William ao melhor nível -, mas já se percebeu que existem outros fatores que fazem com que não se consiga extrair tudo o que William pode dar. 


Adrien Silva: **          
2016/17: **
2015/16: ***
2014/15: **     
2013/14: ***

Na realidade não fez parte do plantel, mas coloco-o aqui porque acabou por somar mais minutos do que jogadores como Palhinha, Misic, Mattheus ou Wendel. Já estava com a cabeça noutras paragens, mas não há nada a apontar a Adrien pelo que fez enquanto ainda foi a jogo pelo Sporting.


Rodrigo Battaglia: **

Foi o jogador que participou em mais partidas de todo o plantel (57 jogos) o que, por si só, reflete a importância que teve ao longo da época mesmo não sendo um indiscutível. Battaglia é um poço de força e voluntarismo - qualidades que sabe dosear bem, o que pode ser atestado pelos apenas 9 amarelos que viu em todas as competições -, ainda que nem sempre consiga dar à equipa tudo aquilo que é necessário num 8. Curiosamente ou talvez não, o melhor período que teve foi quando jogou mais recuado, com Bryan Ruiz à sua frente no miolo. Espero que consiga ultrapassar as questões que o envolveram no triste episódio de Alcochete, pois é um jogador que poderá desempenhar um papel ainda mais importante na próxima época.


Bruno Fernandes: ***          

Contratação do ano e estrela da equipa. Teve um impacto imediato na qualidade de jogo do Sporting, em parte beneficiado por praticamente não ter tido férias e iniciado a época com mais ritmo do que a generalidade dos jogadores, mas a sua influência manteve-se elevada praticamente ao longo de toda a época. Quebrou um pouco no final por ter sido fisicamente mal gerido por Jesus - que não só não o poupou em muitas situações que assim o justificava, como também pelos papéis que lhe atribuiu em campo. Ainda assim, foi uma época brilhante: a folha estatística é impressionante (16 golos e 20 assistências) e foi recheada de muitos momentos que fazem levantar qualquer estádio. Não só é para manter para o ano: é a peça central à volta da qual a equipa tem de ser construida, e tem um perfil adequado que justifica que lhe seja atribuída a braçadeira de capitão.


Bruno César: **
2016/17: **
2015/16: **

Mais uma vez foi um jogador extremamente útil pela sua polivalência. Importante na primeira metade da época - e em particular nos jogos de maior exigência, brilhando na Liga dos Campeões -, foi perdendo espaço a partir de dezembro até ter contraído uma lesão que lhe acabou com a épca em março.


Bryan Ruiz: **          
2016/17: *
2015/16: ***

Afastado do grupo de trabalho durante a primeira metade da época, foi reintegrado progressivamente a partir de novembro até assumir um papel principal em fevereiro. As pernas frescas valeram-lhe boas prestações na posição 8, ainda que não seja um jogador talhado para funções tão exigentes fisicamente. Acabou o contrato e deverá continuar a carreira noutras paragens. Ainda que tenha ficado marcado por aquele falhanço e esgotado a paciência de muitos adeptos pela sobreutilização que Jesus lhe deu - em particular em 2016/17 -, é um jogador que, pelo menos a mim, deixará saudades pela classe que demonstrou ter, quer dentro quer fora de campo.



Alan Ruiz: *
2016/17: *

Tinha esperanças que conseguisse retomar a boa forma que demonstrou em parte da 2ª volta de 2016/17. Ao contrário da sua primeira época, chegou em boas condições físicas à pré-época e pensei que pudesse aproveitar esse balanço e a melhor adaptação ao clube para conseguir demonstrar as suas qualidades. O problema é que... não conseguiu, muito longe disso, e não foi por falta de oportunidades. Lento a decidir com a bola nos pés e defende só quando lhe apetece, o que faz com que seja um jogador perfeitamente inútil em campo. Esgotou a paciência dos adeptos e acabaria, também, por esgotar a paciência da única pessoa que ainda acreditava nele: o treinador. Um flop completo que poderá estar de volta em dezembro de 2018.


Mattheus Oliveira: *

Mattheus foi uma contratação que levantou alguma polémica. Nada nas suas características gerava confiança nas suas possibilidades de afirmação num clube como o Sporting - ainda mais num sistema de jogo como o de Jesus. Dos poucos minutos de competição que teve, a maior parte foi contra equipas de escalões inferiores... e nem aí conseguiu demonstrar capacidade que justificasse minutos em desafios mais exigentes. Um erro de casting previsível, pelo que não surpreendeu o empréstimo ao V. Guimarães em janeiro.


João Palhinha: -

Teve uma utilização demasiado esporádica para poder demonstrar o que pode fazer. Verdade seja dita que havia muita concorrência para a sua posição (William, Battaglia, Petrovic), mas acabou por ser um ano perdido. Mais valia ter sido emprestado.



Radosav Petrovic: *
2016/17: -

Mais uma época com poucos minutos. As oportunidades que teve como médio defensivo nunca foram aproveitadas, e acabaria por ser como defesa central que teve os seus melhores jogos. Há que dizer que a sorte também nunca o protegeu - como esquecer a sua absurda expulsão contra o Moreirense que viria a ser despenalizada pelo CD? -, mas está mais que visto que não tem valor para continuar por cá.


Wendel: -

É incompreensível que Jesus lhe tenha dado tão pouco tempo de jogo, considerando o esforço que a direção fez na sua contratação. E não se pode dizer que fosse um capricho da direção, porque, efetivamente, foi visível ao longo da época que precisávamos de um médio mais capaz nas tarefas de transporte de bola. Do pouco que se viu, Wendel tem essas competências que, por mesquinhez ou teimosia - o treinador não quis aproveitar.


Misic: -

Diz quem o conhece que é um médio centro posicional com boa capacidade de passe e especialista nas bolas paradas. Quem não o conhece não teve oportunidade de comprovar nada disto, face à escassez de utilização. Pior: quem conseguir entender por que razão Jesus o colocou a médio ala na final da Taça, que me explique.

domingo, 27 de maio de 2018

Sporting é novamente campeão europeu em pista

A equipa feminina Sporting acabou de vencer pela segunda vez o campeonato europeu de atletismo em pista, reeditando o sucesso de 2016, numa emocionante disputa com o Enka. As duas equipas chegaram empatadas à última prova e foi nos 4x400m que o título foi decidido.

Aqui fica a última e decisiva prova. Parabéns, Leoas!



sexta-feira, 25 de maio de 2018

A candidatura de Frederico Varandas

O pedido de demissão de Frederico Varandas e imediato anúncio de que se assume como candidato à presidência do Sporting provocou uma resposta muito forte por parte da direção - primeiro em comunicado e depois pela boca de Bruno de Carvalho na conferência de imprensa de ontem - e também foi alvo de críticas por parte de muitos sportinguistas.

Vamos separar esta questão em duas partes: primeiro a demissão, e depois a candidatura.

O comunicado inicial da direção fala num pedido de demissão "inusitado" e deixa entender que a decisão de Frederico Varandas é inoportuna por ocorrer numa altura em que o futebol feminino, o futebol jovem e várias modalidades ainda estão em competição. À noite, Bruno de Carvalho recuperou as metáforas militares utilizadas pelo ex-diretor clínico nas entrevistas dadas a vários órgãos de comunicação social e acusou-o de deserção.

Não concordo com esta argumentação. Na minha opinião, Frederico Varandas saiu num momento adequado. Não queria continuar por não se rever na liderança do clube e saiu mal acabou a época de futebol sénior, dando tempo à direção de encontrar um substituto antes do início da nova temporada. Não faz sentido que a direção invoque que o médico tinha as mesmas obrigações para com as outras equipas ainda em competição. Por esse prisma, Varandas nunca poderia sair do Sporting, pois há sempre competições a decorrer. Quando, por exemplo, o futsal concluir os playoffs, já a equipa de futebol sénior estará a trabalhar na preparação da nova época. Por aqui não há lugar a críticas, apenas um agradecimento pelo trabalho realizado.

Quanto ao timing da candidatura, pode-se questionar se, de todos os dias, o anúncio teria de ser feito ontem - sabendo-se que havia uma reunião decisiva ao princípio da noite. No entanto, não concordo com quem o acusa de oportunismo por se candidatar numa altura em que ainda não se iniciou um processo eleitoral. Pelo contrário. Acho muito importante que os candidatos apareçam ANTES da AG. É de todo o interesse dos sócios que se conheçam as alternativas a Bruno de Carvalho no momento em que forem votar a favor ou contra a destituição desta direção. Só assim poderão votar em plena consciência das possíveis consequências que a sua decisão poderá ter, seja num sentido ou noutro.

Não vou deixar aqui qualquer declaração de interesses, porque não tenho interesses para declarar. Não conheço pessoalmente Frederico Varandas nem faço ideia de quais os apoios que terá recolhido antes de ter decidido candidatar-se. Em teoria, acho que é um nome forte para umas futuras eleições: é jovem, fez um trabalho reconhecidamente de excelência ao longo dos anos em que esteve ao serviço do clube, conhecerá certamente todos os cantos à casa, e qualquer pessoa minimamente atenta sabe que vive o clube intensamente e não é menos sportinguista do que qualquer outro sócio. Agora, quer isso dizer que dará um bom presidente? Não faço ideia, essa é uma pergunta a que ninguém poderá responder - e muito menos quem não o conheça bem. Já tivemos no passado presidentes que foram grandes surpresas e grandes desilusões face às expetativas que criaram enquanto candidatos. Num cenário de eleições pós-AG, não escondo que o candidato Frederico Varandas tem um perfil que à partida me agrada, mas a minha decisão acabará por depender decisivamente do programa que apresentar e da equipa que o rodear - e também, obviamente, das outras listas que se apresentarem a votos.

Todos os sportinguistas têm a sua opinião sobre o caminho que acham mais adequado para o futuro do clube, mas parece-me que ninguém tem a ganhar com ataques gratuitos a candidatos pelo simples facto de... serem candidatos. Isto é válido para todos, independentemente da pessoa que apoiem. Acredito que aparecerão mais candidatos, vamos passar por um período em que muitas coisas serão ditas, prometidas e criticadas, muitos erros serão cometidos nesse percurso - ainda ontem Frederico Varandas teve um comentário dispensável em relação ao assunto das rescisões -, mas o mais importante é que todos tenham liberdade total para apresentar e discutir ideias porque, quando e se a altura chegar, também os sócios terão liberdade total para escolher a pessoa que, na sua opinião, terá melhores condições para liderar o clube em direção dos sucessos que todos desejamos.

AGuenta, Sporting...

A noite de ontem acabou por ser mais um bom exemplo de como os nossos órgãos sociais não se preocupam muito com os superiores interesses do Sporting Clube de Portugal. Marcar uma AG de destituição da direção para 23 de junho é uma decisão que pode comprometer vários processos fundamentais em curso: a preparação da época 2018/19 (que arrancará entre 21 e 25 de junho) e a emissão do empréstimo obrigacionista prevista no âmbito da reestruturação que permitirá reformular as condições de recompra das VMOCs em condições muito vantajosas para o clube. Para além disso, duvido que esta decisão mude, no quer que seja, eventuais intenções de rescisão de contrato por parte dos jogadores, pois a AG irá realizar-se após o fim do prazo para a tomada dessa decisão.

Considero que é inevitável a realização de eleições para todos os órgãos sociais face ao grande número de demissões que aconteceram na última semana e ao ambiente de turbulência extrema a que chegámos com o ataque à Academia, o caso pós-Madrid, o processo Cashball e o descalabro desportivo no campeonato e taça. Como tal, o cenário que me parecia ideal seria o acordo entre todas as partes para a realização de eleições em setembro/outubro, pois, desta forma, o planeamento da época e a concretização do empréstimo obrigacionista ficariam assegurados e a reestruturação financeira passaria a estar praticamente concluída. A pressa de uns e a intransigência de outros condenou à partida a solução que melhor defenderia os interesses do clube e da SAD.

Na conferência de imprensa realizada após o anúncio de Jaime Marta Soares, Bruno de Carvalho apresentou vários argumentos válidos para criticar a decisão tomada. E se é verdade que Jaime Marta Soares lhe propôs um cenário alternativo com marcação de eleições daqui a 60 dias até eleições, então fez bem em recusar. Não seria melhor solução do que esta marcação de AG.

No entanto, não gostei de ver o discurso de vitimização que dominou a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho. O presidente poderia também ter assumido as responsabilidades que teve no ambiente de grande turbulência em que o clube está mergulhado desde fevereiro, mas, como tem sido hábito, prefere continuar a chutar as culpas todas para outras paragens. Para além disso, considero absurda a forma como recorreu aos resultados das votações da última AG para afirmar a sua legitimidade e descartar a necessidade de se colocar nas mãos dos sócios: há muito mais motivos agora para que a vontade dos sócios seja auscultada do que havia na AG de fevereiro - em que fomos todos arrastados apressadamente para um referendo desnecessário por causa de um capricho do presidente. A "validade" da votação dessa AG expirou muito mais depressa do que expirou a "validade" das eleições de 2017, pois muita muita água passou debaixo da ponte desde fevereiro... e estou seguro de que há muitos sócios que, sabendo o que sabem hoje, sabendo a forma como o presidente exerceu o seu mandato desde então, teriam pensado muito melhor antes de lhe confiar o seu voto.

Pelo que Bruno de Carvalho disse ontem, diria que há uma boa probabilidade de que a direção avançará para a impugnação da marcação da AG. Desconheço se isso permitirá "comprar" algum tempo, mas uma coisa é garantida: o próximo mês será uma extensão do circo que se tem vivido ao longo das últimas duas semanas.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Dr. Candidato?

Frederico Varandas apresentou a demissão e afirma-se disponível para integrar uma lista numa futura eleição. É uma grande baixa para o clube - não há quem não reconheça a enorme competência com que dirigiu o departamento médico do futebol do Sporting ao longo destes anos - e um nome com muito peso para o próximo processo eleitoral. Fico apenas na dúvida sobre se o seu papel será um dos nomes a integrar uma lista encabeçada por outra pessoa ("faço questão de ficar completamente livre para participar numa solução de governação do SCP") ou se será efetivamente candidato a presidente ("um primeiro passo para liderar uma solução de Direção do nosso Clube"). 

Aqui fica o texto que foi publicado há pouco na sua conta de Instagram:



Sportinguistas,


Hoje entreguei ao presidente do nosso Clube, Dr. Bruno de Carvalho, uma carta comunicando a minha saída do Departamento Médico da Sporting SAD.



Tenho a honra de ter crescido numa família de dedicados sportinguistas e tenho estado ativamente ligado às atividades do Sporting. Sinto e vivo Sporting desde os 3 anos e até hoje, mesmo nos momentos mais críticos da minha vida, como na comissão de serviço militar no Afeganistão, nunca deixei de respirar “Sporting”. 

Tive com o atual presidente, desde que ele confirmou a minha colaboração ao tomar posse no seu primeiro mandato, a máxima lealdade e revejo-me em grande parte no património material e imaterial que ele deixa ao nosso Clube.

Revejo-me na valorização dada às Modalidades, no aumento de exigência e ambição competitiva do Futebol Profissional, na concretização do projeto do Pavilhão João Rocha, na atenção aos Núcleos, na dinamização dos Associados e Adeptos.

E revejo-me na capacidade demonstrada nos primeiros anos de presidência de convocar os Sócios a participar na vida do nosso Clube.

Infelizmente, os acontecimentos dos últimos meses sublinharam a faceta autocrática e sectária do Dr. Bruno de Carvalho, tornando impossível a minha permanência sob pena de faltar ao meu superior dever de Lealdade para com o Sporting.

No momento em que se produzem sucessivos episódios desviantes deste nosso Património comum, faço questão de ficar completamente livre para participar numa solução de governação do SCP que respeite os princípios democráticos, éticos e competitivos que marcam a nossa História. 

Esta minha demissão não deve, pois, ser vista como um afastamento da Vida do SCP. 

Constitui, na realidade, um primeiro passo para liderar uma solução de Direção do nosso Clube que seja convergente com o nosso desígnio histórico, respeitando os nossos fins, os nossos valores, a nossa identidade, visando a harmonia entre associados e a projeção ambiciosa no futuro que todos queremos. 

Viva o Sporting Clube de Portugal.



EDIT 11h50: Entretanto, Frederico Varandas já confirmou em entrevista ao jornal O Jogo que será mesmo candidato caso haja marcação de eleições.

Balanço de 2017/18: GRs e Defesas


Rui Patrício: *** 
2016/17: **
2015/16: *** 
2014/15: *** 
2013/14: ***


Melhor época de sempre. Não seria tarefa fácil compilar os melhores momentos de Rui Patrício ao longo deste ano, tantas foram as ocasiões em que impediu golos que pareciam inevitáveis. Imperial entre os postes e no 1 contra 1, conseguiu desenvolver suficientemente o seu jogo de pés e a saída aos cruzamentos para os deixarmos de ver como fraquezas. O único ponto fraco do seu jogo que resta é o controlo da profundidade, mas isso não invalida que seja neste momento um enorme guarda-redes. A infelicidade na Madeira que acabou com as ténues esperanças que ainda existiam para acabar em segundo lugar e a desoladora saída em lágrimas no Jamor foram um final tremendamente injusto face à quantidade de vezes que nos salvou ao longo da época. É possível que a sua história no Sporting tenha chegado ao fim, o que torna tudo ainda mais amargo - não só pela forma como tudo acabou, mas também porque o segundo jogador mais utilizado na história do Sporting merecia sair com um campeonato no palmarés. Que seja feliz e que consiga conquistar aquilo que não conquistou connosco. Merece o melhor.


Salin: -

360 minutos de utilização distribuídos equitativamente entre confrontos de exigência reduzida na Taça de Portugal e na Taça da Liga são demasiado escassos para podermos avaliar se Salin é a pessoa certa para o papel de segundo guarda-redes. Se tivesse que arriscar, diria que não -  caso contrário, Jesus ter-lhe-ia confiado a baliza em bastantes mais ocasiões. Uma coisa é certa: nunca senti o mesmo conforto que sentia quando havia Beto no banco.


Cristiano Piccini: **

O mundo sportinguista - incluindo yours truly - torceu o nariz quando viu Piccini ser apresentado em Alvalade. Apesar de ser um desconhecido para a maior parte dos adeptos, o italiano foi rotulado de flop no dia da sua apresentação por causa da sua fraca estatística de cruzamentos - qualidade que todos julgavam ser prioritária havendo Dost para servir. E, de facto, nesse sentido, os receios eram fundados, pois Piccini não convenceu do ponto de vista ofensivo. Mas é justo dizer que não tardou a demonstrar ser um exímio defensor, com uma fantástica capacidade de posicionamento e antecipação. É um jogador talhado para os grandes jogos. Depois há a outra face da moeda: as suas insuficiências ofensivas fazem com que perca grande parte da sua utilidade contra adversários que se fecham na defesa - ou seja, estaremos a falar de 70% dos jogos das competições nacionais. Não sendo o lateral ideal para o campeonato português, é um lateral que interessa ter no plantel.


Stefan Ristovski: **

De início parecia a antítese de Piccini: de vocação bem mais ofensiva e sempre disponível para explorar o espaço no seu corredor, mas com alguns problemas para controlar os extremos adversários em tarefas defensivas. Ainda assim, as suas primeiras exibições foram prometedoras a ponto de se estranhar a falta de oportunidades concedidas por Jesus. Passou depois por um período de menor fulgor, parcialmente justificável por ser utilizado de forma muito esporádica, mas conseguiu acabar a época em bom plano, mostrando melhorias ao nível do posicionamento defensivo e confirmando capacidade para criar desequilíbrios no ataque.



Fábio Coentrão: ** 

A chegada por empréstimo de Coentrão levantou muitas dúvidas nos sportinguistas por causa dos conhecidos problemas físicos, psicológicos e (para alguns, nos quais não me incluo) do passado no Benfica e as juras de amor feitas ao rival. Os primeiros jogos foram algo angustiantes por causa da evidente falta de confiança que tinha na sua condição física - quando Coentrão caía no relvado, o estádio inteiro sustinha a respiração com medo do pior. Mas com o tempo foi recuperando a confiança e acabou por conquistar das bancadas com a sua garra e vontade de vencer. O Coentrão que tivemos está longe do lateral explosivo de há muitos anos, mas não deixa de ser um jogador que sabe sempre o que fazer em campo. A meio gás, foi, confortavelmente, o melhor lateral esquerdo que tivemos em muitos, muitos anos.


Jonathan Silva: *
2015/16: *
2014/15: *

Conforme se esperava, voltou da Argentina sendo o mesmo jogador que era quando saiu de Portugal. Acumulou bastantes minutos no primeiro terço da temporada devido à gestão física / lesões de Coentrão, e deu para ver que manteve as qualidades que tinha e, sobretudo, os defeitos. A raça sul-americana não consegue disfarçar as gritantes insuficiências defensivas. Não surpreendentemente, foi dado como dispensável. Surpreendentemente, a Roma veio buscá-lo. Não surpreendentemente, pouco jogou e na próxima temporada cá o teremos de volta, provavelmente por pouco tempo.


Lumor Agbenyenu: -

Reforço de inverno, não poderia ter tido pior receção do que aquela que Jesus lhe dispensou, pois o primeiro comentário do treinador não podia ter sido mais humilhante. Acabou por ir a jogo mais vezes do que se esperaria, mas apenas numa ocasião jogou mais do que 25 minutos. Nas oportunidades que teve, não se destacou (o que era difícil) nem comprometeu (o que já não é mau). Ou seja, estamos na mesma em relação a janeiro: continua a dúvida sobre se poderá ser uma boa solução para o lugar.


Sebastián Coates: **
2016/17: ***
2015/16: ***

Depois de uma época em que foi uma espécie de pronto-socorro de uma defesa demasiado instável, Coates teve, finalmente, a possibilidade de jogar ao lado de um central de créditos firmados e de laterais que sabem o que fazer no momento defensivo. Estranhamente, esta acabou por ser a época mais irregular do uruguaio desde que chegou ao Sporting: protagonizou demasiadas situações de desconcentração ou excesso de confiança em relação ao que nos tinha habituado. Ainda assim, a época foi globalmente positiva - convém relembrar que foi dos jogadores mais utilizados (54 jogos) e que teve influência decisiva em alguns deles (como nas meias-finais da Taça, em Tondela ou em Vila da Feira).


Jérémy Mathieu: ***

Chegou como um central velho, lento, propenso a lesões e, ainda por cima, fumador - apesar de haver dados suficientes para desmentir a parte do lentidão e das lesões -, mas precisou apenas de dois jogos para conquistar Alvalade, quando, contra o Setúbal, com o jogo empatado a 0 e o tempo a aproximar-se do fim, decidiu fazer duas arrancadas como se de um extremo esquerdo se tratasse para abanar os companheiros da apatia em que tinham caído. Classe imensa, velocidade, espírito vencedor. Ah, e também sabe bater livres. Mais uma época destas, se faz favor.


André Pinto: **

Cumpriu muito bem o papel de terceiro central. André Pinto teve o primeiro teste a sério da época em Vila do Conde quando teve que substituir o lesionado Mathieu à passagem da meia-hora e a defesa não se ressentiu. Continuou a estar globalmente num bom nível nos vários jogos de dificuldade elevada que se seguiram (Juventus, Braga e Olympiakos). Considerando a utilização irregular que teve (já que Coates e Mathieu tiveram épocas muito consistentes), creio que não seria justo exigir-se mais a André Pinto.


Tobias Figueiredo: -
2015/16: *


2014/15: **

Foi com alguma surpresa que ficou no plantel, acabando por participar em apenas quatro jogos. Pode ter sido pouco tempo, mas foi suficiente para perceber que a confiança não abundava - de Tobias em si próprio e da própria equipa e público em Tobias. A sua saída para Inglaterra acabou por ser um desfecho natural.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

OFICIAL: a silly season voltou




Nojo


Todos os sportinguistas devem ler isto, principalmente os que ainda tiveram a distinta lata de insultar os jogadores no final da Taça.

LINK.


O regresso de Inácio

O Sporting anunciou ontem o regresso de Augusto Inácio à estrutura de futebol do Sporting. O homem que conquistou o campeonato em 2000 foi nomeado diretor desportivo, tendo o clube tido o cuidado de especificar num comunicado posterior que não se trata de uma substituição de André Geraldes - que retomará as funções de team manager quando forem levantadas as medidas de coação a que está sujeito. Foi também referido que Bruno de Carvalho deixará de assistir aos jogos do banco de suplentes.

Há duas conclusões óbvias que se podem retirar daqui.

A entrada de Inácio parece indicar que Bruno de Carvalho decidiu criar um maior distanciamento entre si e a equipa de futebol: primeiro pela criação de um cargo intermédio entre a direção e a equipa técnica; depois pelo regresso do presidente à tribuna durante os jogos. Era um passo inevitável face a tudo o que aconteceu nos últimos dois meses. O perfil parece-me adequado: Inácio é um homem do balneário, já desempenhou o cargo nos anos de Leonardo Jardim e Marco Silva, e é também um homem de confiança do presidente. Em teoria, são movimentações que fazem sentido. Veremos como correrá na prática.

Há depois a questão de Jorge Jesus. Inácio foi afastado porque Jesus quis preencher a estrutura de pessoas da sua confiança. Não sei qual é o tipo de relacionamento que os dois têm atualmente, mas isto não são sinais positivos para a manutenção do status quo da equipa técnica atual: no mínimo, significa que Jesus perderá muita da sua autonomia; no limite, pode significar que o Sporting se prepara para trocar de treinador. Seguramente que nos próximos dias a questão do treinador ficará definida, já que falta pouco mais de um mês para a nova época começar.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Terrorismo comunicacional

Os inenarráveis acontecimentos de terça-feira passada que culminaram nas agressões a atletas do Sporting em pleno balneário colocaram o clube no centro de uma tempestade nunca vista no futebol português e causaram aquilo que é, neste momento, o maior risco a curto-prazo a que o clube está sujeito: a rescisão unilateral dos atletas.

Em relação a este tema, no entanto, há duas facetas diferentes a considerar: o aspeto mediático e o aspeto legal. Sobre o aspeto legal estamos a falar de águas nunca dantes navegadas. Poderá ser aquilo que aconteceu motivo suficiente para os jogadores rescindirem o contrato com o Sporting? Não sou jurista e não faço ideia de qual será a resposta para esta pergunta - e duvido que mesmo os maiores especialistas sobre direito do trabalho tenham posições totalmente vincadas em relação a este tema. Já deu para perceber, mesmo para os leigos, que é uma questão muito complicada e que qualquer decisão precipitada que se tome poderá ter consequências imprevisíveis.

Fonte: European Journalism Observatory
Depois há o aspeto mediático. Nem a queda do BES nem a prisão de Sócrates tiveram um impacto tão avassalador durante um período tão prolongado. Começou-se a falar em terrorismo. Comunicação social e poder político, cada qual com os seus motivos, uniram esforços para fazer disto um caso exemplar. Aí recai a primeira hipocrisia, pois no dia 17 de janeiro de 2018, cerca de 30 adeptos do V. Guimarães, alguns dos quais encapuzados, invadiram um treino no clube e agrediram jogadores (LINK).

Não quero com isto banalizar, atenuar ou desculpar o que aconteceu em Alcochete. Aceito que o mediatismo e dimensão do Sporting elevem a questão para outro patamar, mas se o que está aqui em causa é terrorismo... então como é que alguém explica que os acontecimentos de Guimarães, ocorridos apenas quatro meses antes, não tenham sido mais do que uma nota de rodapé nos noticiários da imprensa desportiva e não tenham despertado qualquer atenção da classe política?

Mas houve um outro tipo de aproveitamento. A sucessão de notícias a anunciar as rescisões tem sido qualquer coisas de surreal. Apesar de não ter havido qualquer tipo de consenso entre os especialistas de direito desportivo e direito de trabalho sobre a existência de bases irrefutáveis de rescisão, a última semana tem sido um desfile de parangonas a anunciar a catástrofe iminente.


Curiosamente ou talvez não, essa catástrofe iminente tem vindo a perder algum fulgor ao longo dos dias.

Há muito de wishful thinking na forma como as notícias têm sido dadas. Não quer dizer que não exista o risco de haver rescisões - é evidente que há -, mas é completamente óbvio que muitos jornalistas e comentadores decidiram atirar-se de cabeça para o pior cenário possível, em vez de avançarem para o cenário mais provável. Primeiro, o plantel iria rescindir de imediato de forma coletiva. Depois adiou-se a bomba para segunda-feira, primeiro dia útil após a final da Taça. A seguir já se dizia que as rescisões iriam aparecer durante a semana, e agora até já se fala no prazo de 30 dias que está previsto na lei.

Está mais que visto que o que interessa é manter em aberto a possibilidade das rescisões. A lógica e consistência dos argumentos utilizados pouco importa. Veja-se, por exemplo, a figura de Diamantino no Mais Tabaco de ontem:


Para além das argoladas nos argumentos utilizados - até mete dó -, Diamantino coloca em causa o caráter dos jogadores que queiram permanecer no Sporting? Mas estamos a brincar? Diamantino, um dos heróis de Saltillo e consagrado cartilheiro benfiquista, a mandar bitaites sobre o caráter de outros jogadores? Realmente é preciso descaramento.

Ao terrorismo consumado na Academia, muita da comunicação social decidiu responder com terrorismo comunicacional. Deixei alguns exemplos em cima, e poderia arranjar muitos mais. Até se chegou ao ponto de dizer que o Sporting se tinha "perdido" 20 milhões porque as ações tinham caído alguns cêntimos na sua cotação. Curiosamente, entretanto as ações da Sporting SAD aumentaram 30% e ninguém diz quanto é que o Sporting "ganhou" - nem têm que dizer, porque a SAD não fica nem melhor nem pior em função da cotação das suas ações.

Podemos contar com uma coisa: este terrorismo comunicacional vai continuar nos próximos dias, pois se há coisa que estes encartados da verdade detestam é que o tempo não lhes dê razão. Aquilo que puderem fazer para consumar o que dizem ser inevitável, será feito.

O outro lado da moeda

Percam cinco minutos da vossa vida e vejam esta intervenção de uma sportinguista num fórum televisivo. Apesar de tudo o que se tem passado, existe um outro lado da moeda que não deverá deixar de ser considerado. 


domingo, 20 de maio de 2018

Esgotado?

Em primeiro lugar, parabéns ao Aves pela vitória de hoje.

O jogo de hoje foi o corolário do que foi o futebol do Sporting na segunda metade desta época: uma equipa esgotada fisicamente e psicologicamente, orientada por um treinador esgotado nas suas ideias. Chegámos ao ponto em que me parece melhor apostar desde o 1º minutos num central a ponta-de-lança e em bombeamentos constante de bolas para a área do adversário do que manter este jogo ultramastigado incapaz de potenciar coletivamente as individualidades que temos. Jesus fez uma grande primeira época, só não ganhou o campeonato pelos motivos que se conhecem, mas as duas épocas seguintes acabaram por ser fracassos rotundos face às condições que lhe foram proporcionadas. Se tiver dignidade, coloca já hoje o seu lugar à disposição.

Espero que os jogadores não rescindam. Quem quiser que saia, desde que por valores aceitáveis para o clube, que se pague a dívida com essas receitas e que se construa um plantel novo com gente que queira efetivamente cá estar. Depois do que aconteceu, não vale a pena manter jogadores contrariados. 

Também esgotada está a presidência de Bruno de Carvalho. Não pelas ideias que trouxe para o clube - com as quais me identifico -, mas pela forma completamente desastrada com que executou parte dessas ideias. Demonstrou bom senso ao não comparecer no Jamor e não se colocar no centro daquilo que deveria ser (e foi, confusões de claques à parte) uma festa, mas é impossível desligar o suplício que foi esta época com a sucessão consecutiva de crises perfeitamente evitáveis que foi provocando. Até pode ser que consiga evitar o iminente desastre perante o qual o clube está colocado, mas depois disso todos sabemos que será apenas uma questão de tempo até surgir uma nova crise. É necessário abrir um novo capítulo na história do clube - e por novo capítulo refiro-me mesmo a um novo capítulo. O regresso da dinastia que governou o clube até 2013 não é solução, é simplesmente o retomar de um outro problema ainda mais grave do que o atual. Terá de aparecer uma terceira via.

Mas isso é uma luta que começará a partir de amanhã. O sportinguista não tem descanso. Felizmente, o amor ao clube é a única coisa que parece ser inesgotável, e enquanto assim for... há esperança.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Manipulação inaceitável

O Sporting divulgou hoje os resultados do 3º trimestre. Apresentou um prejuízo de 8,9 milhões entre janeiro e março de 2018, mas o total da época ainda se cifra num lucro de 1,1 milhões. São contas positivas considerando que a única venda significativa realizada em 2017/18 foi a de Adrien Silva, por 20M, com mais 5M de variáveis.

Na época passada os lucros totais apresentados no 3º trimestre foram de 35,1 milhões por causa, sobretudo, das vendas de Slimani e João Mário por um total de 70 milhões de euros. Ainda assim, os resultados referentes ao 3º trimestre foram piores do que esta época: entre janeiro e março de 2017 o Sporting apresentou um prejuízo de 11,4 milhões.

É, por isso, completamente inaceitável que o Record apresente a notícia sobre os resultados financeiros do Sporting desta forma:


O Jornal de Negócios decidiu também "atacar" pelo mesmo ângulo.


Se vivêssemos numa situação de normalidade, os resultados apresentados hoje seriam considerados bastante positivos. Chegar ao 3º trimestre com lucro apenas com uma venda significativa é sinal que as contas são suficientemente equilibradas para aquela que é a realidade do mercado português - em que a grande fonte de receitas é, precisamente, a venda de jogadores.

Mais ainda quando se pode ver que, entre janeiro e março de 2018, o Sporting reembolsou a banca em mais 8,5 milhões de euros, reduzindo a dívida total de 110,6 milhões (números apresentados nas contas do 1º semestre) para 102,1 milhões. No total da época, o Sporting já reembolsou a banca em 25,2 milhões de euros.


Este não é caso único. Têm saído várias notícias relacionadas com questões financeiras com títulos sensacionalistas cujo objetivo é agravar a situação de instabilidade que o Sporting atravessa. Muito cuidado, mais uma vez, com os julgamentos prematuros.

Roleta russa

Bruno de Carvalho e os restantes elementos dos órgãos sociais que ainda o acompanham agendaram a emissão de um comunicado para a noite de ontem. Contra a generalidade das expectativas, Bruno de Carvalho iniciou o comunicado anunciando que não se demite, em nome dos interesses do clube. Seguiram-se outras intervenções para marcar uma posição face aos gravíssimos problemas que o Sporting atravessa.

Não renego nem nunca renegarei a admiração pelo trabalho que esta direção fez em prol do clube até há seis meses, nem o meu alinhamento com a visão que o presidente recuperou para o clube: ecletismo, transparência, ambição e dedicação. Mas Bruno de Carvalho (e quem ainda o acompanha) já devia ter percebido que os acontecimentos dos últimos meses fizeram com que seja agora maior fonte de problemas do que soluções. Aliás, neste momento é quase exclusivamente uma fonte de problemas. 

Os 90% esfumaram-se. Se o Sporting já era um clube complicado de gerir e liderar enquanto houve um apoio avassalador à direção, penso que não é difícil compreender que a partir de agora passará a ser ingovernável.

Havia um cenário que poderia dar boas hipóteses ao clube de se reequilibrar e retomar a normalidade possível a curto prazo, que passaria pela substituição imediata de Bruno de Carvalho por Carlos Vieira. Garantia uma figura credível e conhecedora da realidade para liderar o Sporting nos complicados meses que se seguirão. Mas a opção não foi essa. Insistem em fechar os olhos às evidências, preferem continuar a adiar o que parece inevitável, e agora ninguém faz ideia daquilo a que poderemos estar sujeitos nas próximas semanas.

Sinto que se iniciou um jogo de roleta russa com cinco balas colocadas num tambor de seis e em que nos calhou a nós sermos os primeiros a premir o gatilho.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Cuidado com os julgamentos precipitados

O objetivo deste texto não é defender a inocência de ninguém nem desviar as atenções das graves acusações que pendem sobre o Sporting. No entanto, no meio da enxurrada informativa a que se tem assistido nos últimos dias têm-se registado também várias situações de desinformação que se podem explicar por negligência face ao ritmo dos acontecimentos, mas também por aproveitamento doloso daqueles que têm cartilhas para apregoar.

Há múltiplos exemplos que se podem arranjar. Na segunda-feira, a Comunicação Social anunciou em massa que Jorge Jesus tinha sido suspenso de funções. Como se sabe, Bruno de Carvalho desmentiu essa notícia à saída do estádio, mas, ainda assim, no dia seguinte foram várias as rádios e televisões que continuavam a garantir que estava iminente um processo disciplinar a Jorge Jesus, faltando apenas a entrega de um documento. 

Na terça-feira, o Correio da Manhã identificou André Geraldes como sendo responsável pelas modalidades do Sporting. Apesar de qualquer pessoa minimamente atenta saber que André Geraldes nunca foi responsável pelas modalidades (era oficial de ligação aos adeptos antes de ter entrado no departamento de futebol, onde foi responsável pelo gabinete de apoio aos jogadores e é agora team manager), o resto da Comunicação Social foi atrás.

À esquerda, em baixo: a referência do CM a André Geraldes na edição sobre corrupção no andebol


 



Como se pode ver, o grau de escrutínio não é propriamente exemplar. Mais uma vez, um órgão de comunicação social deu a notícia e muitos outros foram atrás sem fazer as devidas validações.

Ontem houve outra situação idêntica. A meio da tarde, a Comunicação Social noticiou em massa que a NOS estaria a equacionar a rescisão de contrato com o Sporting.




Pouco tempo depois, a NOS negava oficialmente essas notícias.


Ainda assim, houve quem chegasse atrasado à "notícia inicial" já depois do desmentido oficial. Isto só vendo para crer:


Como é fácil de perceber, há demasiada vontade da Comunicação Social em avançar notícias sobre o assunto. Uma sofreguidão que impede um escrutínio rigoroso e acaba por fazer com que passem muitas imprecisões.

À hora em que escrevo isto já circulam rumores sobre as bombas dos próximos dias: casos de doping a envolver jogadores do Sporting (Nuno Saraiva já tinha alertado que iria sair uma reportagem sobre doping no princípio de maio) e uma iminente prisão de Bruno de Carvalho. Tal como as coisas andam, já nada me admira. No entanto, voltando ao que iniciou tudo isto - a reportagem do CM e as provas apresentadas pelo arrependido, continuo a ver muitas inconsistências e factos estranhos:

1. Está mais que visto que é a justiça a ir a reboque das notícias publicadas na Comunicação Social, e não o contrário. No caso das investigações de aliciamento a adversários do Benfica, já existiam investigações quando a Comunicação Social as revelou ao público.

2. Por enquanto não há árbitros nem jogadores arguidos.

3. O único jogador cujo nome foi divulgado (pelo menos que me tenha apercebido) é João Aurélio, reconhecidamente um benfiquista ferrenho. No momento em que termino este texto, João Aurélio acaba de emitir um comunicado em que nega as acusações (vale o que vale, obviamente) e afirma-se surpreendido por ainda não ter sido chamado pelas entidadades competentes para prestar declarações (LINK).

4. As mensagens de Whatsapp que ouvi são quase todas do arrependido, sempre no diz-que-disse. Não há diálogos, são apenas mensagens de voz num único sentido, e o que é dito nem sempre é propriamente convincente. E falta saber o contexto, se é que existe contexto.

5. Continuo a achar estranho o arrependido ter ido primeiro ao CM e não à PJ ou ao MP.

6. Continuo a achar muito curioso que César Boaventura tivesse conhecimento de tudo e andado a publicar teasers desde a semana passada.

7. É difícil não estabelecer algum tipo de relação entre os casos de doping que parece que aí vêm e a entrada de Luís Horta (que foi presidente da ADoP durante 5 anos) no Benfica.

8. Depois de décadas em que foram raros os casos de doping e corrupção no futebol português, é surreal que apareça tanta coisa num espaço de tempo tão curto.

Repito: não sei se aquilo de que o Sporting é acusado é ou não verdadeiro, e não ponho as mãos no fogo por ninguém. Também se pode dar o caso de haver algumas coisas verdadeiras e outras falsas. Mas que há aqui algumas coincidências e ocorrências que carecem de explicação adicionais, lá isso há. Junte-se a isso uma Comunicação Social demasiado sôfrega de notícias bombásticas e um gabinete de crise a funcionar a todo o vapor com a colaboração de um ex-SIS... e parece-me, por isso, que será sensato resistirmos a fazer julgamentos precipitados sobre tudo o que está a acontecer. Há que dar tempo para as investigações ocorrerem e para que novos dados (devidamente trabalhados por quem de direito) sejam conhecidos, para podermos então passar a ter uma opinião mais fundamentada.

P.S.: Ainda assim, a minha opinião em relação à necessidade à saída de Bruno de Carvalho não muda: aquilo que se passou na Academia é demasiado grave e revela que neste momento o Sporting é um clube sem liderança. A marcação de uma AG extraordinária para esclarecimento dos sócios em relação ao atual momento não me satisfaz, parece-me apenas uma forma de perder tempo para tentar adiar o inevitável.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

O que falta ao comunicado

Comunicado emitido há pouco:



O Sporting Clube de Portugal confirma que foram realizadas, no dia de hoje, buscas nas instalações do Clube, no âmbito de uma investigação que se encontra em segredo de justiça.



O Sporting Clube de Portugal confirma ainda que dois colaboradores foram constituídos arguidos. 

O Sporting Clube de Portugal confia na justiça e, como sempre defendeu, prestou e prestará toda a colaboração necessária ao apuramento da verdade.




Faltou dizer que os dois arguidos ficam suspensos de todas as funções do clube, independentemente das medidas de coação com forem decididas pelo juiz. Bem sei que faltam apenas 5 dias para os órgãos sociais decidirem o seu futuro - e não me passa pela cabeça que não acabe na convocação de eleições -, mas até lá o mínimo que podemos fazer é tentar manter a minúscula parcela de dignidade que ainda nos resta.

Isto é que é o Sporting

Jaime Marta Soares anunciou na noite de ontem que os órgãos sociais se irão reunir na próxima segunda-feira. Mais do que razoável, a decisão é sensata. O clube não beneficiaria em nada com reuniões de emergência quando faltam apenas quatro dias para a época acabar.

Até lá, há que procurar os cacos espalhados pelo chão e procurar colá-los para que voltemos a ter uma algo parecido com um vaso até domingo. O meu entusiasmo com a final da Taça esvaziou-se por completo, mas não deixa de ser um objetivo que é importante alcançar, porque, melhor ou pior, a vida do Sporting continuará como sempre continuou. As condições para o conseguir estão longe de ser as ideais, a conjuntura é a que é, mas há que fazer os possíveis para trabalhar em cima disso.

Foi um dia negro para o Sporting, dos mais negros de que me lembro, mas nem tudo foi mau: também houve espaço para uma bonita manifestação espontânea de quem recusa que o Sporting seja definido pelas ações de 50 arruaceiros. Não estive lá fisicamente, mas é como se lá estivesse estado. Isto é que é o Sporting.


terça-feira, 15 de maio de 2018

Anarquia

Quando chegamos a este ponto, não faço ideia daquilo que se possa dizer ou fazer. Identificar e punir os animais que fizeram isto é um bom começo, mas não é suficiente. 

O Jamor deixou de interessar. Não quero saber se o Sporting vai ganhar ou perder, a partir deste momento há coisas muito mais importantes para tratar. Nada, mas mesmo nada, justifica isto.

Aos jogadores, equipa técnica e staff, espero que compreendam que 99,999% dos sportinguistas se sentem enojados pelo que se passou. Enojados e envergonhados por uma coisa destas vos ter acontecido enquanto estavam ao serviço do nosso clube.

Aos dirigentes... mais uma crise (já nem sei quantas foram nos últimos meses). Esta não vos pode ser imputada diretamente, mas o que é facto é que hoje se ultrapassaram todos os limites. Durante o vosso mandato. Deixaram o clube cair na anarquia. Façam os possíveis e os impossíveis para apurar responsabilidades e controlar os danos, e depois convoquem eleições. Acabou-se.


Argumentos pertinentes

Chamaram-me a atenção para um comentário feito no princípio desta tarde na TVI24 sobre a notícia do CM. São apresentados argumentos muito pertinentes sobre a forma como este caso surgiu. Recomendo que vejam este vídeo, nomeadamente a partir do 1m10s, porque duvido muito que alguém os repita nos programas da noite.





Sobre a notícia do CM


Neste tipo de temas não ponho as mãos no fogo por ninguém. Não faço ideia se o Sporting pagou ou não a árbitros de andebol para ganhar o campeonato do ano passado. Como é evidente, enquanto sportinguista, espero que esta história que o CM divulgou hoje não seja verdadeira.

A peça do CM é longa e elaborada - ou seja, é bastante mais complexa do que o habitual "O CM sabe que" -, tem muito sumo, mas também é estranha. 


É estranha, em primeiro lugar, porque é tudo baseado na versão de um suposto intermediário arrependido. O indivíduo arrependido seria, tanto quanto percebi, o intermediário entre os árbitros e outro intermediário que, por sua vez, estaria em contacto com André Geraldes. O indivíduo arrependido diz que fez o que fez pelo seu sportinguismo. Se é sportinguista e sabendo que pode apanhar vários anos de prisão por causa do que alega ter feito, por que razão se arrependeu?

É estranha, em segundo lugar, porque não menciona em parte alguma se existe ou não uma investigação da PJ. Com tantas provas, acho esquisito que o arrependido fale com o CM e não com a PJ ou com o Ministério Público. Até porque é o MP e não o CM que lhe poderá atenuar uma eventual pena de prisão.

E é estranha, em terceiro lugar, porque, na semana passada, houve isto:


Estamos em semana de final da Taça de Portugal, pelo que a data da publicação que o CM escolheu não é inocente. O jornal anuncia, no entanto, que continuará com as revelações sobre este tema nos próximos dias. Vamos aguardar para perceber o que aí vem.

É um assunto demasiado grave para o Sporting não se pronunciar, ainda que os desmentidos valham pouco neste tipo de situações. De qualquer forma, o silêncio é pior remédio.

Não excluo a possibilidade que tudo isto seja verdade - como disse antes, nestas coisas não ponho as mãos no fogo por ninguém -, mas também sei que existem gabinetes de crise e Césares e cartilheiros que anda constantemente a criar "factos" para desviarem as atenções do que se passa noutras bandas. 

Há que manter a serenidade possível. A tarde de ontem foi um bom exemplo de como não devemos ser precipitados a fazer julgamentos. Neste momento, enquanto espectador deste assunto, aquilo que mais gostava de saber é: há ou não investigação da PJ em curso? Essa será a principal chave para perceber se estamos perante algo de verdadeiramente grave ou perante carvão com um grau de elaboração bastante mais trabalhado.

A montanha pariu um rato (pelo menos para já)

A montanha pariu um rato, pelo menos para já. 

Vamos esquecer-nos por um momento do circo mediático que se gerou no final da tarde de ontem e que se prolongou pela noite dentro. Depois de um jogo vergonhoso que nos privou de um objetivo importantíssimo e em vésperas de um outro também muito importante, é normal que o presidente tenha querido falar com os jogadores e equipa técnica. A reunião decorreu no estádio, em privado, e não no Facebook ou no Instagram. É assim que deve ser. 

Em paralelo a Comunicação Social foi armando a tenda do circo, instalando as bancadas e montando as barraquinhas das pipocas e do algodão doce, enquanto ia prometendo um espetáculo inesquecível. As "notícias" que começaram a circular garantiam que a equipa técnica tinha sido suspensa e que não estaria no Jamor, e que três jogadores (Rui Patrício, William Carvalho e Bruno Fernandes) tinham ameaçado não jogar a final da Taça caso essa suspensão se efetivasse. A Comunicação Social bem pode ter anunciado o Cirque du Soleil, mas os artistas não apareceram. A estrutura acabou por desabar ruidosamente quando, à saída do estádio, Bruno de Carvalho negou a suspensão da equipa técnica e afirmou que a reunião com os jogadores decorrera de forma normal. Acredito que seja verdade, porque até ver não houve nenhuma reação antagónica do lado dos jogadores. 

A um fim de tarde pródigo em especulações sucedeu-se uma noite de discussões assentes em premissas desmentidas oficialmente, o que é uma bela imagem daquilo em que se transformou o jornalismo e o comentário desportivo em Portugal. Lá mais para o final da noite a história foi alterada: de suspensão passou-se para uma transmissão verbal a Jorge Jesus da decisão de que lhe será instaurado um processo disciplinar. Vale o que vale, pela amostra do dia o melhor é mesmo ficarmos todos de pé atrás antes de tomar por certo qualquer notícia sem confirmação de nenhuma das partes diretamente envolvidas.

Comecei o texto com "A montanha pariu um rato, pelo menos para já.". Escrevi "pelo menos para já" porque estou totalmente convencido de que Bruno de Carvalho já não vê Jorge Jesus como a pessoa certa para o banco do Sporting e, como tal, não quererá que o treinador cumpra a última época de contrato com o Sporting. Confirmando-se este cenário, tenho a certeza de que Bruno de Carvalho não terá o mínimo interesse em pagar o último ano de contrato a Jorge Jesus. São 5, 6, 7, 8 ou 9 milhões (dependendo da cartilha) que farão muita falta ao orçamento do Sporting numa época em que não haverá Champions para forrar os cofres da SAD, pelo que não tenho dúvidas de que Bruno de Carvalho usará todas as armas à sua disposição para forçar uma rescisão "amigável" - mesmo que o processo para a alcançar seja tudo menos amigável. O Bruno mais "maluco" (roubando o termo utilizado pelo próprio presidente na recente entrevista ao Expresso) é o Bruno que avança para uma negociação que não aceita perder. Perguntem à banca, perguntem a Marco Silva, perguntem ao Inter e ao Leicester. Acredito que os próximos dias/semana não vão ser bonitos, mas é bem provável que leve a sua avante. A conta bancária do Sporting agradecerá, a reputação do clube se calhar nem tanto. Tranquilidade até o assunto estar encerrado, nem pensar.

Não vou agora entrar em comentários sobre se concordo ou não com a saída do treinador. Enquanto adepto, acho que devo fazê-lo apenas após o próximo domingo. Há uma competição importante para ganhar. Mas percebo que a direção não se possa dar a esse luxo: 2018/19 já está aí ao virar da esquina e terá de ser muito bem preparada para minimizar os efeitos do catastrófico 3º lugar em que ficámos. Vai ser uma espécie de regresso a um passado nada distante: ao contrário dos últimos anos, os nossos adversários vão ter um orçamento bastante superior ao nosso. Todos os milhões vão contar.